Entregar uma cesta básica a alguém que perdeu o emprego, realizar ligações para alegrar pessoas em isolamento ou fazer compras no supermercado para quem não pode sair de casa são atitudes que têm se espalhado durante a pandemia de Covid-19 e beneficiado a saúde de indivíduos em todo o mundo. No entanto, essas atitudes vão além do cuidado físico e, independente do contexto em que ocorram, também aliviam o estresse e previnem doenças emocionais.
“Quando contribuímos para causar mudanças positivas na situação que o outro está vivendo, regiões específicas do nosso cérebro são ativadas e passam a produzir hormônios como a dopamina, que nos dão sensação de prazer e bem-estar”, explica a psicóloga Lidiane Almeida, ao citar estudos publicados entre 2016 e 2018 pela revista científica internacional Psychosomatic Medicine.
Em uma dessas pesquisas, especialistas norte-americanos descobriram que atos de caridade estimulam áreas do sistema nervoso central envolvidas nas respostas ao estresse e à recompensa. Já um outro estudo divulgado pelo mesmo periódico mostrou que o resultado é ainda mais intenso quando o doador sabe quem está recebendo sua ajuda e acompanha esse indivíduo de forma pessoal. “Esse suporte direcionado resulta em maior sentimento de conexão social”, afirma o artigo.
Isso significa, segundo a psicóloga, que os benefícios da compaixão variam conforme o engajamento nas ações solidárias. “Você pode ajudar um idoso a atravessar a rua ou até doar um órgão, por exemplo. A diferença estará na sua motivação em servir ao próximo”, pontua Lidiane, ao afirmar que ter um propósito genuíno para a prática de compaixão traz vantagens a todos, pois “contribui para o bem comum e para uma sociedade melhor”.
Um exemplo disso é o voluntariado, no qual milhares de pessoas dedicam horas, dias ou meses para fazer a diferença na vida de alguém. “Só que quem acaba sentindo essa diferença somos nós, os voluntários” garante a paranaense Gabriela Rodrigues dos Santos, que deixou seu trabalho como professora na cidade de Curitiba para atuar de maneira gratuita em uma comunidade de 250 pessoas no interior do Amazonas. “Eu estava desmotivada e queria um propósito para minha vida, então aceitei esse desafio”.
“Eu estava desmotivada e queria um propósito para minha vida"
A paranaense — que hoje está com 32 anos — passou 2018 e 2019 promovendo atividades de educação, higiene e bem-estar no vilarejo de Piraí, localizado a 300 quilômetros de Manaus. “O lugar era tão isolado que levava de quatro a seis horas para chegarmos ao município mais próximo, com pouco mais de 30 mil habitantes”, recorda.
Além disso, o deslocamento na região só ocorre de barco e, por isso, os moradores não têm acesso a alimentos industrializados, remédios ou a eletrodomésticos comuns. “Quando voltei para casa e olhei minha máquina de lavar, por exemplo, me deu muita vontade de chorar, porque lá as pessoas demoram o dia inteiro para lavar a roupa da família, e isso embaixo de um sol muito, muito quente”, relata Gabriela, que aprendeu a viver sem energia elétrica, a dedicar tempo para ouvir os outros e a valorizar pequenas coisas da vida.
“Quando você se doa para ajudar quem precisa, o maior beneficiado é você, porque são essas pessoas que te ensinam”
“Quando você se doa para ajudar quem precisa, o maior beneficiado é você, porque são essas pessoas que te ensinam”, afirma a paranaense, emocionada ao falar de como a experiência como voluntária mudou sua vida. “A gente aprende a se virar com pouco e desenvolvemos amor, cuidado e carinho por pessoas que nunca vimos antes”, garante a jovem, ao mesmo tempo em que percebeu como os laços com sua família e amigos ficaram mais intensos. “Sempre fui uma pessoa muito carinhosa, mas hoje eu abraço minha mãe de um jeito mais forte e especial que antes, porque percebi como momentos assim são importantes”.
Com isso, além de obter crescimento pessoal, ela ainda encontrou o ânimo e propósito que procurava. “Antes de ser voluntária, eu estava passando por vários problemas pessoais e meu esgotamento emocional no trabalho era gigante. Eu estava à beira da depressão”, recorda. “Só que doar meu tempo, força e conhecimento a essas pessoas que precisam mudou isso, e a Gabriela de hoje é completamente diferente”.
Comece dentro de casa
Só que nem todos têm facilidade para se envolver dessa maneira em ações sociais. Por isso, é importante que a família incentive esse desejo nos filhos, dando o exemplo por meio de atitudes que expressam valores morais e que demonstram interesse pelo bem-estar dos outros.
Além disso, vale a pena conversar com os pequenos a respeito da importância de proteger pessoas mais frágeis e vulneráveis — como o irmão mais novo, um colega que acabou de chegar à escola ou um idoso. Aos poucos, a criança aprenderá a se colocar no lugar do outro e levará essa lição por toda a vida.