Não deixar que crianças tenham apenas um melhor amigo tem sido objeto de críticas por pais, pedagogos e psicólogos.| Foto: Bigstock
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Nenhuma criança pode ter um melhor amigo. Essa é uma das regras da escola em que a princesa Charlotte, de 6 anos de idade, filha do Príncipe William e Kate Middleton, frequenta em Londres. A notícia, que rodou a internet no início deste mês, nos faz refletir sobre até que ponto uma medida como esta é de fato inclusiva.

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Aqui no Sempre Família nós já conversamos sobre a importância da amizade entre as crianças, adolescentes e até mesmo adultos. Impedir as crianças de criarem uma relação íntima de amizade com um de seus colegas, o famoso “melhor amigo”, é extremamente prejudicial para seu desenvolvimento, com impactos, inclusive, no seu futuro.

É comum que tanto entre crianças, como entre adultos, existam pessoas com as quais o indivíduo sinta-se mais conectado, tendo maior simpatia. A proibição de criar um vínculo de amizade diferente entre os colegas pode prejudicar a interação e comunicação da criança com os outros, explica Vanessa Omizzollo de Medeiros, educadora e diretora pedagógica, mestra em educação, especialista em Psicomotricidade Educadora.

“Os melhores amigos se aproximam por afinidade e, desta maneira, o ambiente contribui para estreitar estes laços, seja ele escolar ou não. Tudo é uma questão de equilíbrio e respeito, assim como pode existir uma relação de amizade sem exclusividade que favoreça todos”, completa a educadora.

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Confiança de menos

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A psicóloga materno infantil Graziela Becker destaca que a socialização para as crianças é uma aprendizagem completa e complexa. E que aprender a se relacionar com o outro, desde a infância, contribui para seu processo de desenvolvimento, comunicação, expressão corporal, verbal e emocional.

“Quando proibidas de terem um melhor amigo, as crianças podem não desenvolver confiança em ninguém, mantendo-se solitárias, tristes e restritas, dificultando a criação de novos vínculos de amizade quando adultos”, destaca.

Segundo Graziela, as dificuldades para construir novos relacionamentos ou mantê-los por um longo período são percebidas de forma mais clara quando a pessoa atinge a idade adulta, muitas vezes sendo levada a reorganizar tais registros através do processo terapêutico, para trazer mais leveza para as novas experiências de amizade.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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Inclusão ou não?

A escola frequentada por Charlotte e seu irmão George afirma que restringir a criança de ter um melhor amigo evita a exclusão de outros alunos. Mesmo a tentativa de combater ou alterar a expressão, como já apontamos aqui na Gazeta do Povo, não mudaria algo na vida real. Essa proibição não é determinante para contribuir com a inclusão das demais crianças no ambiente escolar.

“O ambiente escolar, além da socialização e contato com outras crianças, envolve aprendizagens e regras, assim como é constituído por um espaço distinto da casa, com professores e cuidadores” aponta Graziela. Portanto, segundo a psicóloga, existe um período de adaptação e reconhecimento desse local pelo qual a criança passa quando começa a frequentá-la, independentemente de ter um melhor amigo ou não.

Além do mais, segundo Vanessa, toda e qualquer proibição é radical e não favorece um desenvolvimento saudável e harmônico nas crianças, não contribuindo para uma conduta inclusiva.

Distinguir e ensinar a acolher

Para evitar qualquer sentimento de exclusão, a questão da amizade deve ser trabalhada com naturalidade entre as crianças, possibilitando a distinção do melhor amigo e os demais colegas, de modo que todos se sintam acolhidos.

“As pessoas, durante toda a vida, irão se deparar com escolhas e abdicações. As frustrações fazem parte do desenvolvimento humano e são salutares. Quando mantemos relações com respeito e cordialidade, dificilmente resultam em exclusões e discriminações”, aponta Vanessa.

Além do mais, Graziela orienta que seja explicado às crianças que as pessoas são diferentes e, por isso, cada um tem preferências, gostos e afinidades que acontecem naturalmente, seja no ambiente escolar, seja no profissional e familiar.

“É importante respeitar as diferenças, ouvir a opinião do outro, brincar com a brincadeira que o amigo propõe, depois brincar com a que você escolheu, muitas possibilidades surgem para ensinar as crianças nesses momentos, permanecendo os vínculos criados por eles”, indica a psicóloga.

Qual a importância do “melhor amigo”?

As relações de amizade são construídas por afinidades, na infância, na adolescência e até entre os adultos os amigos são companhias para passeios, boas conversas e reflexões.

Além da parte sentimental, sabe-se que ter amigos ajuda a manter a saúde e a longevidade do indivíduo. Vanessa conta que estudos realizados em vários países atestam que a felicidade é contagiante e tem um efeito dominó. “Se você é otimista, a chance de seu amigo, e até o amigo de seu amigo, também ficarem felizes é muito maior”, acrescenta ela.

Portanto, ter amigos na infância contribui para que a criança aprenda a respeitar o outro, dividir, ter alguém para se preocupar, cuidar e brincar, marcando as melhores memórias da vida, acrescenta a diretora pedagógica. “Na infância, as amizades melhoram a capacidade de comunicação, de encarar melhor os problemas e frustrações, as superando com apoio do outro ou até mesmo encontrando soluções quando depararem-se com conflitos”, explica Vanessa.

Na adolescência, segundo Graziela, os grupos e a socialização dizem muito sobre o momento de vida pelo qual estão vivendo, buscando o sentido de pertencimento. “Nessa fase, os amigos oferecem suporte, afeto, boa companhia, diversão, segurança emocional ou auxílio instrumental, conduzindo ao aumento da competência social, da autoestima e uma auto avaliação positiva fazendo o indivíduo sentir-se pertencente àquele grupo”, acrescenta Vanessa.

Como motivar as crianças para desenvolverem amizades?

A intimidade, segundo Graziela, é algo que vai se construindo através da convivência e está relacionada ao quanto cada criança e adolescente se sente confortável com a proximidade.

Os pais podem contribuir para que os filhos desenvolvam amizades quando percebem que eles não as têm, fortalecendo um canal de comunicação com a criança, através da sua linguagem, buscando identificar se existem dificuldades que estão impedindo a criança de desenvolver amizades. “Identificada a dificuldade, os pais devem buscar apoio profissional, orientações e acompanhamento terapêutico”, acrescenta a psicóloga.

Além disso, os responsáveis podem estimular e apresentar novas pessoas, incentivando encontros e programas em grupos, promovendo atividades coletivas de interesse em comum e muito diálogo, indica Vanessa.

Da mesma maneira que os pais, as escolas podem oferecer estímulos, propostas e incentivos coletivos melhorando o ambiente escolar e propondo uma melhor convivência em sociedade. “O ambiente escolar é muito rico, pode contribuir e oportunizar novas experiências, vivências diferentes com o grupo de crianças, fortalecendo e aprimorando os vínculos”, finaliza Graziela.

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