Os pais devem estar ainda mais atentos ao comportamento dos filhos, tentando manter a rotina em casa e evitar cobranças excessivas| Foto: Aleksey Kutsar/Pixabay
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As crianças estão longe dos colegas, da professora e passam a maior parte do tempo dentro de casa, sem sair para passear ou brincar. Elas encontram dificuldade para conversar com os pais devido ao trabalho em regime de home office e percebem que ter a família reunida na residência não é mais como antes. Além disso, ouvem notícias a respeito da Covid-19, são orientadas a lavar as mãos diversas vezes e percebem que os adultos estão bem mais preocupados que o normal.

“Se para nós já é difícil lidar com tudo isso, para os pequenos é ainda mais impactante, e precisamos ajudá-los”, alerta a psicóloga Simone Nosima, ao afirmar que, sem a devida orientação e apoio, os filhos podem desenvolver transtornos de ansiedade e até síndrome do pânico durante o período de quarentena. “Eles mostram isso por meio de alterações de humor, crises de choro, birras, dificuldade para dormir e episódios de medo”.

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Por isso, os pais precisam estar ainda mais atentos ao comportamento dos filhos neste período e dar espaço à criança para que ela fale de seus sentimentos, assim como a jornalista Bárbara Fernandes Güttges fez com a filha Ana Liz, de 3 anos de idade. Moradora de Viena, na Áustria, ela e a família podiam sair para algumas caminhadas durante o período de isolamento no país – sempre usando máscaras e respeitando a distância mínima de um metro e meio das outras pessoas –, mas a menina se recusava a acompanhar os pais.

“Ela dizia que não queria sair de casa, então perguntamos o que estava acontecendo e a Ana Liz contou que tinha medo do ‘bichinho’ que deixava pessoas doentes”, relatou a mãe em entrevista ao Sempre Família. “Explicamos, então, que não precisava ter medo, que era para ficar perto da gente, lavar bem as mãos e passar álcool em gel, pois isso evitaria que o ‘bichinho’ entrasse na nossa casa”.

De acordo com a psicóloga, conversas assim são essenciais e ajudam os pequenos a entenderem o que estão sentindo, nomearem seus sentimentos e buscarem um jeito de lidar com eles. “Talvez tomando um banho relaxante ou fazendo uma oração antes de deitar”, exemplifica Simone. No entanto, o vínculo de confiança com os pais não é construído de um dia para o outro e precisa de tempo de qualidade diariamente para ter efeito. Inclusive, “uma excelente maneira de fazer isso é brincando com a criança”.

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Essa ação aparentemente simples é a técnica utilizada nos consultórios de psicologia para atender pacientes em idade infantil, pois dá aos pequenos a chance de expressarem com facilidade o que sentem. Assim, quando pai e mãe dedicam tempo para se divertir com os filhos, percebem sinais que não veriam de outra forma. “A criança elabora suas emoções enquanto brinca e demonstra seus sentimentos e angústias, sem que perceba”, explica.

Estabeleça uma rotina

Mas a proximidade e o carinho não são as únicas estratégias que ajudam no bom desenvolvimento emocional e intelectual dos filhos neste momento de pandemia. Segundo a terapeuta ocupacional Fernanda Monteiro – que é autora do livro Super Gênios –, os pequenos também precisam manter uma rotina durante o período de isolamento e separar períodos para estudar, comer, dormir, se divertir, ter tempo livre e interagir com animais de estimação ou irmãos.

“Uma rotina estruturada e previsível é um remédio incrível no dia a dia de uma criança”, afirma a especialista em neurociência, ao garantir que colocar isso em prática é possível. Segundo ela, basta separar o que é prioridade, ter uma conversa logo pela manhã com o filho para combinar as tarefas do dia e preparar algo visual para os pequenos acompanhem suas atividades. “Pode ser um quadro com desenhos e imagens para os menores ou uma agenda para quem já aprendeu a escrever”, sugere.

Aos poucos, isso produzirá um ambiente mais seguro para a criança, reduzirá sua ansiedade e ainda aliviará o estresse, pois o cérebro dela não ficará em estado constante de alerta. “E outro cuidado essencial para isso está no momento de estudos em casa”, pontua a especialista. “Como não somos os professores das crianças, precisamos aceitar nossas limitações na transmissão de conteúdo e não exigir que os filhos tenham o melhor desempenho neste momento”.

Portanto, é preciso evitar cobranças excessivas e apenas manter firme na criança o hábito de estudar, revisando com ela o que já aprendeu e tentando ensinar coisas novas sem pressioná-la. “Que tal sair da zona de conforto aproveitando a hora do lanche para contar os biscoitos ou convidando o filho para te ajudar no preparo de uma receita, por exemplo?”. Afinal, “sem motivação e interesse também não haverá evolução no processo de aprendizagem”.

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