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Como os pais e a escola devem atuar para formar pessoas éticas e qual o papel que cabe a cada um nisso? Para responder a essa pergunta, o Sempre Família conversou com Oriovisto Guimarães, fundador de um dos maiores grupos educacionais do país, o Grupo Positivo.

Com sete colegas, Guimarães fundou, em 1972, o curso pré-vestibular Positivo, em Curitiba. Hoje, além dos cursos, o grupo conta com escolas próprias, uma universidade, um sistema de ensino, uma editora, uma empresa de tecnologia, entre outras iniciativas. Somando todos os empreendimentos, o grupo alcança mais de um milhão de alunos de escolas públicas e privadas do Brasil e do exterior.

No último mês, Guimarães participou na Universidade Positivo do ciclo de palestras “Vamos Conversar Sobre Ética?”, que contou também com a presença do juiz Sérgio Moro e do empresário e professor italiano Sergio Casella. Guimarães, que comandou o Grupo Positivo durante quarenta anos e retirou-se em 2012, falou sobre a importância da ética na vida e no trabalho. Confira a conversa que ele teve conosco sobre como os pais podem contribuir para a formação ética dos seus filhos.

Qual deve ser a preocupação dos pais em relação à educação ética dos seus filhos?

Antes de tudo, é preciso dizer que ética é diferente de lei. A ética é questão de consciência de cada um. Na sua obra A República, Platão conta a história do anel de Giges. Quando Giges girava o anel, ele ficava invisível aos deuses e aos humanos. Aproveitando-se disso, ele entrou no palácio, conquistou a rainha, matou o rei e iniciou uma dinastia. A reflexão que Platão propõe é: se não estivéssemos sujeitos, por exemplo, à polícia ou ao julgamento divino, o que nós faríamos realmente? A ética e a moral são uma questão de formação interior. Você pode inclusive viver dentro da lei e ser antiético. Na época do escravagismo, por exemplo, era legal ter um escravo, mas não era ético. A ética está sempre acima das leis e é ela que provoca o seu aprimoramento.

oriovisto1As escolas podem contribuir para a formação ética das crianças e adolescentes?

Aristóteles dizia que as virtudes podem ser aprendidas. Então, tudo que você puder ensinar para uma criança no sentido de ter um comportamento ético é importante. Mas é preciso diferenciar uma coisa, que acho fundamental: o papel da família e o papel da escola. Professor não é pai e pai não é professor. São dois papéis distintos que temos na nossa organização social. A escola jamais vai conseguir fazer o papel da família e a família não vai conseguir fazer o papel da escola, pelo menos não tão bem quanto a escola faz. Para isso, um pai teria que ser especialista em diversas disciplinas e ter tempo para dedicar quatro ou cinco horas por dia para ensinar o seu filho. A formação ética é preponderantemente função da família. A formação técnico-científica é preponderantemente papel da escola.

Como os pais devem agir para transmitir uma formação ética aos seus filhos?

O exemplo dos pais vale mais do que qualquer conversa sobre ética. As crianças não apenas nos ouvem: elas nos observam. E percebem tudo, têm a antena ligada! Então não adianta um pai dizer ao filho que é preciso respeitar a lei, mas dar cem reais a um guarda para não levar uma multa. Se a criança presenciar isso, essa atitude cria um dano enorme em sua formação. Em termos de transmissão de valores, o mais importante é que os pais façam um exercício de autocrítica.

Além do exemplo, o que os pais podem fazer para ajudar a criança a desenvolver um caráter ético?

Os pais têm que conversar com a criança, passar o fim de semana com ela, brincar – e na brincadeira podemos ensiná-la a respeitar regras, por exemplo. Se em um joguinho bobo você trapaceia, vai adotar a trapaça como um valor. É preciso ensinar a criança a ter ordem, ter disciplina, ter hábitos de higiene, arrumar a cama, limpar o próprio sapato, guardar suas coisas. Tudo isso vai formando o caráter de uma pessoa, a torna responsável. Além disso, não basta mandar estudar. A criança precisa dispor de um clima para estudar e, mais uma vez, do exemplo dos pais. Tem muitos pais que nunca pegam em um livro. Quando saem do trabalho, ficam sentados com uma cervejinha na frente da televisão o resto do dia. Sequer conversam muito. Mas mandam: “Vai estudar, menino!” Nunca pegam no livro com ele, nunca perguntam como estão as notas, nunca conversam sobre o que a criança aprendeu. O ambiente de estudo é importante: uma casa em que não haja barulho de tevê ligada o dia inteiro, um pai e uma mãe que incentivem o estudo.

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