Há aproximadamente 160 anos a devoção ao Divino Pai Eterno atrai romeiros de fora de Trindade, o seu município de origem, onde foi encontrado o medalhão de barro contendo uma representação da Santíssima Trindade. A cidade goiana, porém, nunca viu um crescimento tão grande da devoção como nos últimos 15 anos – se no começo da década de 2000 o número de romeiros que passava pela cidade nos dez dias de festa não chegava a um milhão, a romaria deste ano bateu pela primeira vez a marca de 3 milhões de fiéis, vindos de todo o Brasil.
A grande reviravolta aconteceu a partir de 2003, quando o padre redentorista Robson de Oliveira, que tinha então apenas 29 anos, se tornou reitor do Santuário do Divino Pai Eterno. A chave para difundir a devoção foi investir fortemente nos meios de comunicação.
“O uso dos meios de comunicação marca um antes e um depois para Trindade”, conta o padre Robson a um grupo de jornalistas presentes na cidade para cobrir a festa deste ano, incluindo um representante do Sempre Família. “Nunca teríamos o público nacional que temos hoje sem o recurso à televisão e à internet. Dez anos atrás tínhamos um público que podemos chamar de setorial, porque mesmo em algumas regiões de Goiás muitas pessoas não conheciam a devoção ao Divino Pai Eterno”.
Hoje, o santuário comanda seis horas diárias de programação em rede nacional de televisão, através de horários adquiridos na grade da Rede Vida. O começo, porém, não foi fácil. Em 2004, o padre Robson decidiu fundar uma associação de fiéis, aos moldes da Campanha dos Devotos, do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. Nasceu assim a Associação Filhos do Pai Eterno, a Afipe, que Robson preside até hoje, embora não seja mais reitor do santuário – desde 2015, ele é superior provincial dos redentoristas de Goiás.
Os programas de televisão começaram em 2007. “No primeiro mês, só consegui dinheiro emprestado da Caixa Econômica Federal porque o gerente confiou em mim. Eu não tinha condições de dar garantia. No segundo mês, o gerente confiou de novo. No terceiro mês, quando vi que ele já não iria confiar, foi que a arrecadação da Afipe começou a dar fruto”, relata o padre.
Uma salinha do próprio edifício do santuário foi adaptada para se tornar um estúdio improvisado. O cômodo foi até mesmo revestido com espuma acústica, mas uma rápida visita mostra que a medida não resolveu muito: dali se ouve a movimentação dos romeiros no piso da basílica e até mesmo a descarga do sanitário vizinho. O padre Robson, porém, arranjou uma solução: ele gravava os programas de madrugada, quando a igreja estava vazia. Hoje os programas são gravados na sede da Afipe, em Goiânia.
O investimento nos meios de comunicação mudou a cara da romaria e a tornou conhecida muito além dos limites de Goiás. “Com isso, a cidade deixou de ser um destino regional de viagens de fé e devoção, passando a ser o segundo destino de turismo religioso mais visitado do Brasil”, diz o jornalista Amadeu Castanho, editor do Viagens de Fé, publicação especializada em turismo religioso. “Nos últimos anos, a cidade tem recebido uma média de quatro milhões de visitantes por ano, enquanto Aparecida, no estado de São Paulo, recebeu no ano passado 12.996.818 visitantes”.
Novo Santuário
Com o crescimento do fluxo de fiéis, a Afipe lançou em 2010 o seu projeto mais ousado, a construção de um novo santuário, a cerca de um quilômetro do atual. Com mais de 12 mil metros quadrados, a nova igreja deve ser a terceira maior do mundo, atrás apenas da Basílica de São Pedro e do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida.
Há poucas semanas, o padre Robson confirmou o nome à frente da concepção artística do santuário: o jesuíta esloveno Marko Ivan Rupnik, um dos artistas sacros mais conceituados da atualidade. “Rupnik vai fazer o mundo conhecer Trindade. Trindade vai crescer e ser uma cidade muito importante e forte, uma referência para católicos e não católicos”, aposta Robson. “Pode ser um sonho meu? Pode ser, mas não é uma utopia. Não é uma ideia distante, mas algo que está se concretizando pouco a pouco”.
Para acompanhar o crescimento da devoção e do movimento no município de 121 mil habitantes em função da localização do novo santuário, o padre propôs ao governo de Goiás um plano de desenvolvimento estratégico chamado Trindade +20, que prevê um investimento de 80 milhões de reais. “O estado ganha muito com o turismo religioso”, diz. “O evento religioso promove o turismo, a economia, o emprego, o bem-estar social e o crescimento espiritual das comunidades”.
É o que também diz Castanho. “O turismo religioso é um dos segmentos que mais crescem em todo o mundo e no Brasil não é diferente”, aponta o especialista. “É importante destacar o impacto econômico de eventos como esse. Em apenas dez dias, a Romaria do Divino Pai Eterno gerou impacto econômico de R$ 1,2 bilhões no município”.
Mesmo no olho do furacão de projetos dessa magnitude, o padre Robson é realista e sabe que não pode centralizar a devoção na sua imagem – o religioso tem quase 4 milhões de seguidores em sua página no Facebook. “Eu sei que é preciso que chegue o momento em que o santuário se torne totalmente independente da minha figura. Quando o novo santuário for concluído, será a hora de eu começar a descer para que novas lideranças continuem. Mas não vejo mais como voltar atrás”, avalia.
“O santuário pronto não será o fim, mas o começo. A nova igreja é apenas um dos intentos da associação”, pontua o padre. “O objetivo da Afipe não é construir santuário, e sim levar o Evangelho a partir da devoção à Trindade Santíssima que popularmente chamamos de Divino Pai Eterno”.
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O repórter viajou a Trindade para acompanhar a romaria a convite da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe).
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