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Lidar com a morte de pessoas queridas é difícil para qualquer um e, às vezes, é preciso mais do que apenas tempo para fazer a dor passar. Para atravessar o período de luto há quem viaje para relembrar os bons momentos vividos juntos, quem mude de casa, quem adote um animal de estimação. E para o britânico Gary Andrews (57), a solução foi desenhar seus sentimentos e rotina, após a morte de sua mulher.

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Desde que Joy faleceu, há um ano, ele começou a fazer uma ilustração por dia. A morte da mulher, com apenas 41 anos, foi algo que Gary não esperava. Principalmente porque no início da semana em que Joy partiu, ele havia embarcado para o Canadá a trabalho e a última lembrança é dela acenando para ele no aeroporto.

Nos dias seguintes Joy passou mal, tendo sintomas semelhantes ao de uma gripe. Na quinta-feira ela foi levada ao hospital com suspeita de infecção nos rins, mas sua condição piorou rapidamente. Na sexta-feira Joy morreu com falência de múltiplos órgãos, deixando Gary com os filhos do casal: Lily, então com 10 anos e Ben, de 7. Eles estavam casados há 19 anos.

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Nos desenhos, um refúgio

Gary é ilustrador e animador. Trabalhou para a Disney numa série britânica chamada Fireman Sam. Há dois anos, quando completou 55 anos, ele começou a fazer um diário de ilustrações em sua página no Twitter. Segundo ele, na era digital fazia falta rabiscar o papel com caneta e por isso ele resolveu fazer disso um hábito. “Antes de dormir, criava pequenos desenhos baseados em algo que havia acontecido naquele dia”, contou ele à BBC.

Quando Joy morreu, a rotina de desenhos ganhou ainda mais significado, porque foi ali que Gary encontrou um refúgio. Os desenhos eram algo que eles costumavam compartilhar todas as noites e, com a morte da amada, se tornaram uma terapia para ele. “Depois que ela morreu eu não quis parar, porque representa quem eu sou e me ajuda a pensar sobre o que aconteceu naquele dia”, explicou.

Joy está presente em praticamente todas as ilustrações de Gary. Ao contrário do que se possa imaginar, para ele desenha-la é mais reconfortante do que doloroso. “Fecho os olhos e a vejo”, disse. Um desenho que guarda uma lembrança particularmente forte para ele é aquele que mostra o dia da cerimônia de despedida e gratidão pela vida de Joy. “Esse é o único que fiz às lágrimas. Acho que chorei o tempo todo em que estava desenhando, mas precisava fazer isso”, lembrou ele.

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O momento delicado foi aliviado por meio dos desenhos de Gary. É que a família achou um jeito de acompanhar a passagem do luto dele por meio da rede social. Enquanto compartilhava as ilustrações, parentes e amigos próximos foram percebendo a mudança de sentimentos dele. “Eles gostaram porque mostravam como eu estava e meu estado de espírito”, avaliou. Ele percebia isso quando recebia telefonemas ao publicar ilustrações em sequência, o que deixava as pessoas preocupadas.

Para Gary, uma vez que o desenho está no papel, aquele pensamento se esvai. “Se é um pensamento triste e negativo, eu coloco no papel e deixo sair”, comentou. Todas as ilustrações que fez desde a morte de Joy estão em cadernos expostos em uma prateleira de casa, em ordem cronológica. Por meio deles, os filhos do casal podem lembrar dos dias que passaram desde então. Nas folhas estão dias bons e ruins, porque, para Gary, é assim que a cura acontece. “Pode ser apenas um dia em que meu filho diz algo estúpido – e isso vai acabar no desenho. É importante poder rir na tristeza”, disse ele. “A vida continua, precisa continuar. Tem de ser tão boba e engraçada quanto antes”, finalizou.

Veja alguns dos desenhos de Gary:

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