Com certeza você já ouviu aquela máxima de que para uma união dar certo é preciso encontrar a “tampa da panela” ou a “metade da laranja”, no sentido de achar alguém que te preencha inteiramente e tire todos os seus sonhos e planos do papel, certo?
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Só que atribuir ao outro uma missão tão complexa quanto essa pode ser a maior furada. Especialistas ouvidos pelo Sempre Família garantem que depositar todos os ideais de felicidade em um relacionamento amoroso é a receita para a frustração. Para eles, antes de tudo, é preciso estar completo em si.
“Primeiro porque o parceiro não tem o poder de completar e ser tudo aquilo que alguém idealiza, afinal uma vida satisfatória é feita de incontáveis nuances. Além do mais, um relacionamento está sempre em construção, jamais estará pronto”, diz a psicóloga Bárbara Snizek Ferraz de Campos, mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Segundo ela, o parceiro ideal que preenche por completo é pura ilusão. “O ser humano é movido pela falta, que leva ao movimento. O grande amor é, antes de tudo, uma relação que precisa ser construída no dia a dia. O interessante é buscar parceria e não completude”, recomenda.
Também, pelo que afirma a especialista, um relacionamento sempre traz riscos, ainda mais quando um dos dois está fragilizado e deposita uma carga de expectativas irreais no outro. “Estar seguro de si e conhecer a si mesmo pode ajudar a lidar com a relação de forma menos idealizada e mais leve. Assim, ambos podem aproveitar a companhia um do outro e estabelecer uma parceria positiva”, sugere Bárbara como antídoto.
Imaturidade e narcisismo
“Uma pessoa que não conhece a si própria não consegue se relacionar bem com os outros. E aí fica perdida na relação”, aponta Tito Lívio Ferreira Vieira, doutor em História da Ciência e professor do curso de Psicologia da Estácio Curitiba.
Para ele, a maioria das pessoas é relativamente imatura e narcisista – o que ajuda a explicar essa mania de esperar que o outro nos faça feliz. “A pessoa imatura quer ser olhada pelo outro nas suas necessidades. Então, tem uma certa dose de narcisismo. Não o normal, um pouco patológico, onde as pessoas querem ser ouvidas e atendidas o tempo todo”, acrescenta.
Para que a união dure e seja funcional, o professor defende uma relação baseada no real do outro e não nas expectativas que criamos sobre ele. “Se você é egoísta e não consegue desenvolver a capacidade de amar, não vai desenvolver um interesse sincero pelo outro. O outro não pode ser visto apenas como alguém que vai proporcionar meios de você satisfazer as suas necessidades. Tem que ser justamente o contrário”, ressalta.