Durante a vida, a confiança de uma amizade quebrada pode levar anos para ser reestabelecida e as ideias serem reorganizadas. E quando isso acontece dentro do casamento, é possível reconstruí-lo e restaurar um laço de confiança que foi partido?
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“Reconstruir um relacionamento desgastado é possível diante de critérios muito particulares que envolvem convicções e ideais de vida”, defende Mara Lúcia Verissimo, psicóloga clínica, consultora familiar e coordenadora dos projetos SOS Família, Escuta Solidária e Projeto Sobreviver da Comissão Família e Vida da Arquidiocese de Curitiba. “Portanto, tudo dependerá do sentido que você deu a este relacionamento, da importância que tem esta família constituída, com filhos ou não. Não se trata de imposições, mas de buscar dentro de si os caminhos que te levam à paz e que promovam a paz para todos”, completa.
Evitar permanecer em casa, ausência do diálogo, atitudes de individualidade, manter distância do outro (mesmo dentro de casa), silêncio exagerado, falta de interesse e preocupação com a vida do cônjuge e não desejar dividir a sua vida são sinais de alerta de que o casamento está desgastado, explica o terapeuta familiar Clayton Machado.
Mara Lúcia reforça que, embora o desgaste no casamento possa ser atribuído a inúmeras circunstâncias, ele geralmente é relacionado a um cansaço, físico ou mental, que envolve a todos no ambiente familiar gerando um estado de desconforto na relação, e que, muitas vezes, é interpretado como fim do amor, levando muitos a desistir de um casamento.
“Diante deste quadro as defesas naturais começam a trabalhar, ou seja, a mente começa a flutuar por pensamentos negativos e vitimizadores como: “Eu não mereço isso”; “Não reconhece o meu trabalho e empenho pela família”; “Isso é injusto”; “Se gostasse mesmo de mim não faria tudo isso”, complementa.
A própria caminhada familiar pode desgastar o relacionamento ao longo dos anos, quando existe um distanciamento natural no comportamento dos cônjuges, como a falta de diálogo, escolhas diferentes, deixar de observar o outro, tirando-o como foco de sua atenção, diminuindo gradativamente a sensibilidade mútua que existia.
Contudo, ainda que desgastado, com empenho e dedicação do casal, muitas vezes, as feridas podem ser curadas e o casamento reconstruído. “Geralmente, quando se chega a este ponto em que a convivência se torna pesada e desgastada é preciso um investimento grande na relação para poder retomar e recomeçar”, acredita Mara Lúcia.
Empatia e resiliência
Quando o casal decide buscar a reconstrução do matrimônio, o perdão deve estar sempre presente. “Perdoar é compreender que nada do que o outro derrama sobre mim é eterno, configurando apenas um momento de descontrole e fragilidade. Não é pessoal, trata-se de uma pessoa que não consegue lidar com suas próprias emoções e que precisa de um tempo para se acalmar. Portanto, lidar com as adversidades garantem o amadurecimento do relacionamento” diz a psicóloga.
Mara Lúcia reflete que se a cada dificuldade vamos aumentando em nós a capacidade de compreensão do mundo do outro e de suas reações emocionais vamos nos tornando pessoas competentes em recomeçar. “O perdão tem que ser uma decisão e uma chave que zera tudo o que já foi vivido, um novo recomeço para poder ser readquirida a confiança”, complementa Clayton.
É comum ouvirmos que o diálogo é muito importante para o relacionamento, mas não se improvisa. É preciso treino para conversar com outro, orienta Maria Lúcia. “Conhecer seus anseios, suas emoções, as razões de suas reações emocionais”, assim, através do autoconhecimento, é possível manter um diálogo eficaz com o outro para externalizar meus anseios e necessidades.
“O diálogo, a partilha e transparência do casal são fundamentais para uma boa relação conjugal, sendo uma via de mão dupla, na qual a conversa expressa o que cada um deseja que o próximo melhore e no que pode lhe ajudar. Além disso, a gente tem a prática de cobrar do outro a mudança, mas temos que gerar em nós a oportunidade de mudar, de cooperar na situação”, acredita Clayton.
Encontra-se na amizade
Quando estamos dispostos a vencer os obstáculos para reconstruir o casamento devemos ter em mente que só é possível quando existe a humildade e quando há uma decisão de fazer valer a pena viver no relacionamento, valorando desde os pequenos gestos de cordialidade do outro.
“Fórmula mágica a gente nunca tem, mas a ternura entre o casal deve ser muito importante para reaproximá-los e ajudá-los a encontrar adjetivos e qualidade que antes não viam no outro. O casamento é sempre uma amizade que dá certo, precisamos ser bons amigos para sermos um grande casal”, acredita o terapeuta familiar.
O pior caminho para começar a reconstruir um relacionamento desgastado é buscar encontrar culpados para esta circunstância, colocando à prova a confiança no amor que cada um espera do outro. “É preciso entender que não há mocinhos e vilões no relacionamento, mas pessoas, que embora empenhadas em dar o seu melhor, são passíveis de erros. Por isso, é preciso contar com a compreensão que nos ensina a entender nossas próprias limitações emocionais, as fragilidades do outro e os passos futuros para reconstruir a paz,” finaliza a psicóloga.