Joanne Wood* e Kassandra Cortes**, The Conversation
A relação com uma pessoa insegura pode ser frustrante. Você sente a todo momento que precisa entregar mais do que é capaz. Além de isso ser exaustivo, em vez de ajudar, você pode estar piorando a situação. Quando pessoas inseguras escutam algum elogio, elas tendem a duvidar de si mesmas. E isso significa, estranhamente, que receber um feedback positivo pode aumentar a ansiedade, porque ele pode contradizer a opinião negativa que essas pessoas têm de si mesmas.
Saber dar e receber feedback no casamento amadurece o relacionamento
Pessoas inseguras se questionam se o seu parceiro realmente os conhece e se preocupam em não conseguir dar conta das expectativas. Às vezes, o elogio até pode as levar a responder agressivamente, disparando pensamentos negativos que contradizem o que foi dito. Mas o que fazer, então?
Demonstrar curiosidade é uma boa opção. Fazer uma simples pergunta – “como foi o seu dia?” – pode demonstrar consideração sem ativar nada negativo. Nós recentemente conduzimos uma série de estudos na Universidade de Waterloo e comprovamos que essa simples pergunta faz com que pessoas inseguras se sintam melhor. Nós conduzimos dois estudos específicos, envolvendo 359 adultos norte-americanos (entre 18 e 66 anos) que estavam em algum tipo de relacionamento amoroso.
O radar da insegurança
Para determinar o nível de segurança que os participantes tinham em seus namorados, noivos ou cônjuges, nós demos a eles um questionário que girava em torno do quanto achavam que eram amados. Outro questionário era sobre a sua satisfação no relacionamento. Descobrimos então que as pessoas que se sentem mais inseguras em seu relacionamento se sentiam mais satisfeitas consigo mesmas e com o outro, quando eram questionadas sobre o seu dia.
Para as pessoas que se sentiam mais seguras, a pergunta sobre o dia era menos problemática. Então, por que perguntar “como foi o seu dia?” é efetivo? Essa pergunta demonstra interesse e, se for genuína, é expressão de cuidado. Por isso, testamos essa ideia conduzindo outro estudo. Os participantes leram uma história em que um casal, Mike e Sarah, tiveram uma breve conversa depois que Sarah chegou em casa do trabalho. Um dos grupos teve a informação de que Mike perguntou como foi o dia de Sarah; o outro grupo não ficou sabendo disso.
Aqueles que leram sobre a pergunta de Mike perceberam que Sarah se sentia melhor por causa disso, o que não ocorreu com os que não sabiam desse detalhe. Mas isso não veio da descrição de Sarah sobre o dia; quando os participantes fizeram a leitura, mesmo que Mike não tenha perguntado, eles acharam que a Sarah se sentiria melhor caso Mike demonstrasse interesse nela.
Nós descobrimos que esse cuidado funciona para pessoas inseguras, porque ele é sútil e inocente. Não faz com que a pessoa se analise ou desconfie do próprio merecimento.
A curiosidade é mais efetiva do que o elogio
Claro que não há nada especial na pergunta “como foi o seu dia?”. No entanto, mostrar interesse genuíno é ótimo. No último estudo, nós analisamos 162 casais (entre 17 e 47 anos), separando-os e fazendo com que cumprissem diferentes tarefas. Então convencemos os participantes de que seus parceiros escreveram um recado para eles. Em um grupo, os participantes simplesmente descreveram as próprias experiências; em outro, eles também contaram as próprias experiências, mas, além disso, fizeram a pergunta sobre o dia.
“Demonstre interesse, porque, principalmente em uma sociedade cheia de distrações como a nossa, este é um importante sinal de cuidado e carinho”
Os parceiros mais inseguros que receberam a pergunta se sentiram mais cuidados pelo outro, do que aqueles que não ouviram a frase. Todavia, para pessoas seguras essa pergunta não importou. Suspeitamos de que essas pessoas não precisam de um sinal de interesse para se sentirem valorizadas.
Não estamos tentando convencer ninguém de que deva parar de elogiar seu parceiro. A falta completa de reconhecimento pode ser danosa, especialmente se o parceiro pede esse reconhecimento. Mas o simples elogio pode não ter o resultado que se espera. Não conte com isso para provar ao seu parceiro de que o ama. Demonstre interesse, porque, principalmente em uma sociedade cheia de distrações como a nossa, este é um importante sinal de cuidado e carinho.
* Professora de Psicologia na Universidade de Waterloo
** Professor assistente da Escola de Negócios e Economia Lazaridis na Universidade Wilfrid Laurier
Tradução de André Luiz Costa.
©2019 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.
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