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O papa Francisco reafirmou que “o casamento é entre um homem e uma mulher” e que o aborto “é o homicídio de um inocente”. As afirmações se deram em uma longa entrevista ao sociólogo francês Dominique Wolton, que será publicada nesta quarta-feira (06/09) na França em formato de livro com o título Politique et société (“Política e sociedade”, Les éditions de l’observatoire, 432 páginas).

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Wolton, de 70 anos, é autor de mais de 30 livros – sendo um deles um livro-entrevista no mesmo modelo com o cardeal Jean-Marie Lustiger, arcebispo de Paris, morto em 2007. Em conversa com ele, o pontífice também falou sobre o estado laico, a ideologia de gênero, a crise dos refugiados, o islamismo e a forma de entender a moral cristã, entre outros assuntos. O jornal francês Le Figaro antecipou alguns trechos.

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“‘Casamento’ é um termo histórico. Sempre na humanidade, e não apenas dentro da Igreja, foi entre um homem e uma mulher. Não podemos mudar isso. É a natureza das coisas. É assim que elas são”, disse Francisco. Do seu ponto de vista, a união homossexual deve ser chamada de “união civil”. “Não brinquemos com a verdade”, alertou o papa.

“É verdade que por trás de tudo isso existe uma ideologia de gênero. Até nos livros as crianças estão aprendendo que podem escolher seu próprio sexo. Por que o sexo, ser mulher ou ser homem, é uma escolha e não um fato da natureza? Isso favorece esse erro”, comentou Francisco.

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O papa, que estendeu em 2016 a faculdade de perdoar o pecado de aborto – antes restrita aos bispos – a todos os padres, defendeu a decisão dizendo que “isso não significa trivializar o aborto”. “O aborto é um pecado grave, grave. É um homicídio de um inocente. Mas se é um pecado, é necessário facilitar o perdão”, disse.

 

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Estado laico

“O estado laico é algo saudável. Existe uma laicidade saudável. Jesus disse: ‘É preciso dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus’. Somos os mesmos diante de Deus. Mas acredito que em alguns países, como a França, essa laicidade carrega demais o legado do iluminismo, que criou o senso comum segundo o qual as religiões são uma subcultura”, disse ainda Francisco.

“Acredito que a França – esta é a minha opinião pessoal, não a oficial da Igreja – deveria ‘elevar’ um pouquinho o nível da sua laicidade, no sentido de que é preciso dizer que as religiões também são parte da cultura”, defendeu o pontífice. “Como expressar isso em termos laicos? Através de uma abertura à transcendência. Todos podem encontrar a sua forma de abertura”.

 

A Igreja

“A Igreja não são os bispos, o papa e os padres. A Igreja são as pessoas. E o Vaticano II disse que o povo de Deus, como um todo, não erra”, disse o papa. “Se você quer conhecer a Igreja, vá a um vilarejo onde a vida da Igreja é vivida. Vá a um hospital onde há muitos cristãos que vão para ajudar: leigos, religiosas… Vá à África, onde há muitos missionários. Eles consomem sua vida ali. E fazem verdadeiras revoluções. Não para converter – era em outro tempo que falávamos de conversão –, mas para servir”.

 

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Islã

O papa comentou também a falta de abertura de alguns países de maioria muçulmana à presença de cristãos. “O problema na Arábia Saudita é verdadeiramente uma questão de mentalidade”, disse. “Acredito que seria bom para eles realizar um estudo crítico do Alcorão, como fizemos com as nossas Escrituras. O método histórico-crítico de interpretação os ajudará a evoluir”.

 

Moralidade

“Como nós, católicos, ensinamos moralidade? Você não pode ensiná-la com preceitos como: ‘Você não pode fazer isso, você tem que fazer aquilo, tem que, não pode, tem que, não pode’. A moralidade é uma consequência do encontro com Jesus Cristo. É uma consequência da fé, para nós, católicos. E para os outros é a consequência do encontro com um ideal, com Deus ou consigo mesmo, mas com a melhor parte de si mesmo. A moralidade é sempre uma consequência”, defendeu Francisco.

“Existe um grande perigo de que os pregadores caiam na mediocridade, condenando a moralidade – perdoe-me a expressão – somente da cintura pra baixo. Mas não se fala de outros pecados como o ódio, a inveja, o orgulho, a vaidade, matar o outro, tirar uma vida, fazer parte da máfia, fazer acordos ilegais…”, disse.

 

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Mulheres

Francisco falou ainda sobre as mulheres que o influenciaram em toda a sua vida. “Estar sempre em contato com mulheres me enriqueceu”, afirmou ele. “Aprendi, mesmo na idade adulta, que as mulheres veem as coisas de forma diferente dos homens” e que é importante “ouvir ambos”, disse.

Ele reafirmou a importância que suas avós tiveram em sua vida e relembrou também a figura de Esther Ballestrino, uma militante comunista morta durante a ditadura na Argentina e uma das fundadoras do movimento das Mães da Praça de Maio. “Ela me ensinou a pensar sobre a realidade política”, disse Francisco. “Devo muito a essa mulher”.

O papa citou ainda a psicanalista judia com a qual ele se consultou durante seis meses, entre 1978 e 1979. “Ela me ajudou muito naquele momento da minha vida, em que eu precisava esclarecer certas coisas”, contou Francisco.

 

Europa

“O que é a cultura europeia? Como eu poderia definir a cultura europeia hoje? Sim, ela tem importantes raízes cristãs, é verdade. Mas isso não é o bastante para defini-la”, afirmou o papa. “Na nossa língua espanhola, 40% das palavras são árabes. Por quê? Porque eles estiveram ali por sete séculos. E deixaram uma marca”.

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“Acredito que a Europa tem raízes cristãs, mas não são as únicas. Há outras que não podem ser negadas”, disse Francisco. “A Europa tem uma história de integração cultural, multicultural, muito forte. Os lombardos eram bárbaros que chegaram há muito tempo. E então tudo se fundiu e temos a nossa cultura”.

“De qualquer maneira, acredito que seja um erro não mencionar as suas ‘raízes cristãs’ na constituição da União Europeia”, afirmou o papa. “Foi um erro não enxergar a verdade. Isso não significa que a Europa deve ser inteiramente cristã. Mas é uma herança, uma herança cultural, que recebemos.”

 

Com informações de Crux.

 

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