O casamento é um marco na vida de cada um dos noivos e, de certa forma, sintetiza a trajetória de cada um até ali. Não podia deixar de ser, portanto, que no casamento de Kéziah Costa Ramos de Paulo e Luan Wagner Soares Ramos boa parte da assembleia fosse composta de surdos. Kéziah conheceu a Libras – a língua brasileira de sinais – há cerca de dez anos, em um curso oferecido em sua igreja, e hoje trabalha como intérprete da língua. O que os convidados não esperavam – e nem mesmo a noiva – é que Kéziah os brindaria cantando, em Libras, um dos louvores entoados na celebração.
“Em qualquer culto na nossa igreja, se há a presença de surdos, existe um trabalho com Libras para que a pessoa tenha acesso. E o meu casamento não foi diferente. É um direito e é uma forma de valorizar a presença deles”, resume a jovem de 27 anos. Ela e Luan, de 21, se casaram no sábado (11) na Igreja Cristã Maranata em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Foi por meio da Comissão de Assistência ao Surdo e ao Surdocego da igreja, que Kéziah teve contato com a Libras, em 2009. “Naquela época a igreja abriu uma oficina de Libras. Eu não sabia nada sobre isso. Eu tinha uns 16 anos, me inscrevi e quando comecei a fazer o curso é que descobri o mundo da surdez”, conta ela ao Sempre Família. “Não sei se fui eu que escolhi trabalhar com Libras. Acho que foi a Libras que me escolheu”.
Kéziah acabou se formando em Pedagogia com Aprofundamento em Necessidades Especiais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e desde 2016 trabalha como intérprete na educação básica – além do trabalho na igreja, sempre realizado voluntariamente.
Surpresa
O casamento do casal contou com uma equipe de intérpretes do início ao fim. “Quando começamos a planejar o casamento, havia entre os convidados ouvintes, surdos e um surdo-cego. Para ele, precisa de Libras tátil, porque ele enxerga pouquíssimo”, explica Kéziah. “É o mundo em que eu vivo. Meus amigos são surdos e eu queria que eles entendessem todo o casamento”.
O louvor de Kéziah em Libras não estava nos planos. “Tudo estava transcorrendo como o planejado, mas havia um louvor que toca muito a gente que trabalha com os surdos, porque ele sempre é cantado em Libras em grandes eventos. Ele estava no repertório. Quando começaram a cantar, olhei para os surdos, olhei para o meu noivo e me subiu um sentimento de querer cantar junto, em Libras. Falei para o meu noivo, mas eu estava com o buquê na mão. Ele me disse: ‘Me dá o buquê’”, conta a jovem.
Kéziah nem fazia ideia do quanto a decisão emocionaria os seus amigos – só se deu conta quando eles mesmos lhe contaram, ao fim da celebração. “As pessoas surdas e cegas devem ser incluídas em todos os espaços sociais. Infelizmente a Libras ainda não é tão difundida e os surdos perdem muita informação durante a vida deles”, diz. “Esta repercussão toda que teve é de muita alegria porque queremos que mais pessoas tenham desejo de aprender e que a Libras se propague em todos os espaços sociais”.
As fotos do casamento de Khézia, feitas pelo fotógrafo Emerson Garbini, têm emocionado todos que as veem no Facebook. “Quando eu falo que meus clientes são os mais lindos, esta ai mais uma prova. O cuidado e o carinho que a noivinha Kéziah Costa teve com seus convidados em transmitir os louvores através das Libras” , diz Garbini no post que circula na internet.
