“Linda Glaucia”. É assim que o servidor público Adílio Bezerra, de 54 anos, carinhosamente chama sua esposa, Maria Glaucia, de 55. Juntos desde 1986, e com quatro filhos, a história de amor deste casal de Boa Vista, em Roraima, é algo que encanta a qualquer um que saiba dela. É que há 12 anos Gláucia está em estado vegetativo e Adílio é o responsável pelos cuidados diários de sua amada em casa: dá de comer a ela, dá banho, passa creme hidratante, cuida de seus cabelos e lhe dá todo seu amor.
Não é uma das tarefas mais fáceis cuidar de uma pessoa no estado em que Gláucia se encontra, ainda mais fora do hospital. Adílio não conta com o auxílio de nenhum enfermeiro e credita a Deus toda a força que tem para estar ao lado de sua amada diariamente e pelo fato de ela se manter estável durante todo este tempo. “Não vou dizer a você que a minha fé é a mesma de 2007, quando ela foi internada, mas acredito que Deus está com a gente”, contou ele ao Sempre Família.
Glaucia teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em uma madrugada de setembro de 2007, quando se levantou para ir ao banheiro. “Lembro que ela me pediu para acender a luz do quarto e me chamou no banheiro. Ela estava irreconhecível, pálida e com dificuldade para respirar. Então, com cuidado a levei até a nossa cama e ali ela desmaiou”. Adílio conta que com a ajuda de amigos levou Gláucia até o hospital mais próximo e ela teve uma parada cardiorrespiratória. “Eu tinha saído para buscar algumas coisas em casa e quando voltei não encontrei ela na cama. Chamaram o cardiologista e ele me perguntou se éramos casados e se tínhamos filhos. Respondi que sim e perguntei se ela tinha morrido. O médico então explicou que não, mas que o estado dela era gravíssimo”, explica o servidor público.
Um milagre
Ao ouvir as palavras do médico Adílio ficou em estado de choque e a notícia seguinte o deixou desesperado: Gláucia teria, de acordo com o médico, 10 horas de vida no máximo. “Tinha certeza de ela morreria e fui para casa avisar família. Encontrei no caminho um amigo e disse o que estava acontecendo. As palavras dele me encorajaram de novo, porque ele me lembrou de confiar em Deus”.
Quando voltou ao hospital mais tarde, Adílio encontrou outro cenário. O médico lhe disse que Gláucia estava reagindo de maneira diferente ao esperado para sua situação e que iriam monitorar. Passaram-se as 10 horas e Gláucia se manteve viva. E na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) permaneceu pelos próximos 42 dias, sendo que na primeira semana ficou sedada.
Diariamente Adílio a visitava, até que mais uma vez foi surpreendido: ao ouvir sua voz pela manhã, ela lacrimejou. “O médico não acreditou, precisou que acontecesse outras vezes e a psicóloga confirmar o que estava acontecendo para ele entender”. Sabendo disso, mesmo quando não podia estar com ela, Adílio achava uma maneira de lembra-la de que ele a amava e estava ali por ela. “Consegui o telefone da UTI e fiz amizade com o pessoal que trabalhava lá. Aí eu ligava de madrugada e pedia para alguém ir até perto dela dizer que eu a amava”.
Da UTI Gláucia passou para o quarto e ali foram mais 5 anos, 3 meses e 3 dias. “Dormi 1 ano e quatro meses direto com ela, porque meus filhos ainda eram menores de idade e não poderiam ficar lá com ela”, diz. “Acabei me tornando uma referência para quem chegava ao hospital sem esperanças. As enfermeiras encaminhavam as pessoas para conversar comigo e ouvir minha história com minha mulher”, lembra. Gláucia só foi para casa em 21 de dezembro de 2012.
Rotina de cuidados e carinho
Adílio e Gláucia voltaram para casa e não contam até hoje com auxílio de nenhum profissional da área de saúde, a não ser o atendimento a cada seis meses feito pelo Programa Saúde da Família. A eles foi doada uma cama berço (daquelas que vem com a grade lateral) e eles adquiriram um nebulizador, um aspirador e fraldas. Os filhos do casal costumam ajudar no cuidado dela, mas, recentemente, com o casamento do mais novo, Adílio tem cuidado dela sozinho. “O problema é que peguei uma licença no trabalho e ela está acabando. Precisarei achar quem me ajude no período da manhã até que eu chegue em casa na hora do almoço”, comenta.
Na rotina dos cuidados com Gláucia, Adílio faz de tudo: troca fraldas, dá banho, passa creme hidratante para que ela não tenha feridas na pele, penteia os cabelos e faz a manutenção das unhas, e a alimenta. A dieta específica dela vinha do governo até pouco mais de um ano, mas agora o fornecimento foi interrompido e Adílio tem comprado uma fórmula para crianças que complementa com feijão batido. “Eu anoto tudo em um caderno e falo para ela em que dia estamos e se alguém vem fazer visita. Os médicos dizem que o quadro dela não tem chance de reversão. Eu entendo o que eles dizem, mas confio em Deus. Uma vez os médicos já disseram que ela não viveria, mas ela está aqui hoje ainda”.
Sobre a dedicação que tem à esposa, Adílio diz que está seguindo aquilo que jurou no altar tantos anos atrás. “Fizemos votos de cuidarmos um do outro e ser uma só carne, como diz a Bíblia. Sei que ela faria o mesmo por mim”, finaliza.