“Tenho um conceito muito tradicional de família. Amo o significado de família. Se você quer ser moderno, tudo bem. Se quiser boicotar, [a marca] tudo bem, não compre”, reafirmou Domenico Dolce, fundador da marca Dolce & Gabanna, em entrevista recente à Folha de São Paulo.
A frase acima se refere à polêmica gerada no início de 2015 quando em entrevista à revista italiana Panorama, ele e Stefano Gabanna se declararam contrários a adoção de crianças por casais de homossexuais, criticando também a fertilização in vitro, que faz “crianças sintéticas”, no ponto de vista deles.
Na época, quando a declaração foi divulgada, hashtags tomaram conta das redes sociais, em repúdio. Inclusive Elton John, que é casado com um cineasta e adotou dois filhos, criou uma delas: a #boycottdolcegabanna. Logo, outros artistas como Madonna, Ricky Martin e Courtney Love, demonstraram seu apoio a esse boicote.
Para Domenico e Stefano, a atitude de Elton John e dos outros mostrou o quanto as pessoas podem ser intolerantes às opiniões contrárias às suas. Em nota à imprensa italiana alguns dias após toda essa movimentação virtual, Dolce defendeu o modelo de família tradicional, dizendo que ele cresceu com essa visão de vida, em que a família é formada por uma mãe, um pai e um filho, que sabe da existência de outras realidades e acha justo que existam, mas ele aprendeu desta maneira.
Mais de um ano depois do ocorrido, os dois dizem não se importar com o fato de as pessoas quererem boicotar a marca Dolce & Gabanna, pelo fato de eles, mesmo sendo gays, não apoiarem a adoção de crianças, por casais homossexuais. “É impossível as pessoas amarem tudo o que você faz. Isso é democracia. Se alguém ama demais uma coisa, algo está errado, não acha?”, explicou Dolce durante a entrevista à Folha de São Paulo.
A família, inclusive, é o centro das novas campanhas de marketing da marca. Anteriormente conhecida pelas imagens hipersexualizadas com corpos bem definidos, agora a Dolce & Gabanna quer mostrar o estilo de vida italiano, tendo como referência as famílias da Sicília, terra natal de Dolce.
Outros casos
Dolce e Gabanna não são os primeiros homossexuais influentes a se posicionarem contra a adoção de crianças por gays. No início do ano, o escritor italiano Giorgio Ponte afirmou que sofria mais preconceito por ser religioso do que por ser gay e se posicionou publicamente contra a possível legalização da prática na Itália. Antes dele, o documentarista francês Jean Pierre Delaume-Myard aceitou ser porta-voz da organização La Manif pour tous (que defende o reconhecimento exclusivo do casamento heterossexual) e escreveu um livro explicando por que ele, homossexual, considera injusta a opção do casamento e, sobretudo, da adoção gay.