É comum os pais ficarem preocupados ao ver filhos recém-casados discutirem, deixarem a casa bagunçada, terem dificuldade para preparar as refeições e se perderem nas finanças. No entanto, ainda que tenham centenas de conselhos para transmitir ao novo casal, só devem falar quando forem procurados. “A interferência no casamento nunca é saudável, exceto quando isso for solicitado ou quando os pais perceberem que está ocorrendo algum tipo de violência”, aponta a terapeuta de casais Silvana Leoni Calixto.
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Segundo ela, o afastamento do pai e da mãe nos primeiros meses do relacionamento dos filhos é fundamental para dar espaço à nova família e ajudá-los na adaptação. “Isso porque o novo casal vai discutir e os pais terão dificuldade para olhar a situação de forma neutra, sempre puxando a ‘sardinha’ para o seu lado”. Por isso, devem deixar que os filhos resolvam seus problemas sozinhos, criem sua rotina e definam as regras do novo lar sem interferências externas.
Quando isso não ocorre, a relação com a família é prejudicada e o relacionamento do casal se desgasta. “No nosso caso, por exemplo, tudo que eu fazia estava errado e minha sogra se intrometia até nas nossas viagens”, relata a manicure Deizi Grazieli Baranoski, que tolerou a situação por sete anos. “O pior é que meu esposo não falava nada, então as brigas só foram piorando”, lamenta.
“A interferência no casamento nunca é saudável, exceto quando isso for solicitado ou quando os pais perceberem que está ocorrendo algum tipo de violência”
De acordo com a psicóloga Silvana, casos como esse ocorrem devido ao perfil controlador de alguns pais, que tentam gerenciar a vida dos filhos após o casamento. “Eles querem as coisas da forma que acreditam ser correto e esquecem que também passaram por lutas, ficaram com dívidas e viveram situações complicadas com o cônjuge até aprenderem a viver a dois”, afirma.
Além disso, esses pais sentem saudade da família toda reunida em casa, sob suas ordens, e acabam tendo dificuldade para reconhecer que agora há limites entre eles e seus filhos. “É o que chamamos de síndrome do ninho vazio”, comenta Silvana, que orienta o preenchimento da agenda com novas atividades para superar essa fase. “Alguns viajam, começam a fazer ginástica ou voltam para a faculdade. Assim, passam a conviver com seus filhos somente nos encontros de fim de semana, por exemplo, sem invadir a vida do outro”.
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Quando não conseguem fazer isso e o novo casal percebe que um dos sogros está ultrapassando os limites de interferência no relacionamento, é necessário conversar a respeito. Só que não adianta o genro explicar a situação à sogra ou vice-versa, pois cada filho precisa lidar com a sua família. “Se minha sogra está vindo falar mal da organização da minha cozinha, por exemplo, vou falar ao meu marido e ele vai pedir à mãe dele para não se intrometer mais”, explica a psicóloga.
Segundo ela, isso é necessário porque nora e genro sempre são agregados da família e não têm tanto poder de decisão. “Qualquer palavra desse agregado vai desafiar o clã familiar, então cada um precisa colocar limites aos seus”. Para isso, o filho ou filha pode agradecer aos pais pelo que têm realizado — já que, em grande parte das vezes, são tentativas de demonstrar carinho —, mas precisará ser enfático ao solicitar o fim dessas interferências. “Mesmo que o parente utilize chantagem emocional ou frases agressivas como ‘esqueça que você tem pai ou mãe’”.
“Qualquer palavra desse agregado vai desafiar o clã familiar, então cada um precisa colocar limites aos seus”
Reações assim demonstram imaturidade e prejudicam ainda mais as relações familiares como a da babá Dierly Cristina Assunção, de 28 anos. Ao reclamar da interferência dos sogros na sua vida financeira e na educação dos filhos por quase sete anos, a moradora de Brasília pediu ao esposo que conversasse com os pais e pedisse espaço. No entanto, o pedido não foi aceito e o casal precisou cortar laços com a família durante meses. “A situação ficou insustentável. Nos mudamos e meu marido acabou bloqueando todos eles das redes sociais, WhatsApp, chamadas, mensagens, tudo”, conta.
Para evitar desfechos assim, a terapeuta aconselha que as interferências sejam corrigidas com maturidade e afeto assim que surgirem. Além disso, é importante que o casal tenha condições de manter-se financeiramente para evitar a participação dos pais em seu orçamento e que consiga um local fora do terreno da família para iniciar a vida a dois.
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“Dizem que a moradia não pode ser perto o suficiente para que o familiar venha de chinelo e nem muito longe para que tenha que vir de malas, mas isso vai depender muito da maturidade dos pais e filhos”, garante a psicóloga, que pede atenção dos pais até na hora de oferecer conselhos aos recém-casados. “Se o filho vier pedir sua opinião, devolva o problema para ele. Afinal, agora ele está casado e precisa conversar com o cônjuge para tomar decisões”, finaliza.
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