Sem dúvida, o amor nos faz felizes. É uma experiência que vale a pena desfrutar, pois tem um efeito positivo no desenvolvimento emocional, principalmente na adolescência. No entanto, quando o desejo de amor excede os limites, podemos estar enfrentando uma dependência emocional.
Existem relações em que esse desequilíbrio é nítido: uma das partes depende em grande parte da outra e isso tira sua liberdade e gera desacordo constante. De fato, adolescentes que passam por essa experiência de sofrimento psicológico nem percebe e pode permanecer assim com diferentes relacionamentos românticos ao longo da vida.
Segundo a literatura científica, a dependência emocional recebe explicações biológicas, psicológicas e sociológicas. E todas ou algumas dessas condições podem existir ao mesmo tempo. Em relação à manifestação biológica, sabe-se que experiências traumáticas na infância, como abuso ou negligência no cuidado à criança, interagem com a genética para alterar a estrutura e a função do cérebro, causando danos ao sistema de apego emocional a curto e longo prazo. Os centros emocionais do cérebro se comunicam com o córtex cerebral e seu funcionamento superior, sendo decisivos para nossas escolhas, inclusive como encaramos o mundo.
Insegurança, falta de carinho, auto-estima ...
É assim que a falta de afeto, insegurança ou baixa auto-estima levam a problemas psicológicos que levam à dependência emocional. Outra causa são distorções cognitivas, mais conhecidas como falsas crenças sobre o amor do parceiro. Algumas frases típicas são: "É o amor da minha vida", "É a minha cara-metade", "Você tem que fazer sacrifícios por amor" ...
Em última análise, esses significados estão intimamente ligados a fatores sociológicos, onde as normas sociais entram em jogo: "Se todo mundo faz isso, então o comportamento é apropriado". Ou a norma social prudencial: "Se não, como os outros vão me julgar?"
Como surge a violência?
Ser emocionalmente dependente é um terreno fértil para a violência surgir em um relacionamento de namoro. Qualquer adolescente pode ser vítima dessa situação que tende a se manifestar com comportamentos mais agressivos à medida que o tempo do relacionamento aumenta. Uma forma de prevenção é identificar comportamentos abusivos. Os mais óbvios são classificados como violência física, sexual e psicológica/emocional. Os adolescentes são mais suscetíveis à violência verbal e sexual.
Os atos de violência podem ser: bater, morder, arremessar objetos, empurrar, apertar, bater, ameaçar, humilhar, ridicularizar em público ou gritar. Ou, ainda, violações como relações sexuais forçadas ou tocar partes íntimas sem consentimento. O resultado de experimentar essas expressões violentas atinge a saúde física e mental da pessoa. No entanto, existem outras práticas que constituem as áreas não visíveis do problema, uma vez que não são percebidas pela sociedade como atos abusivos. Essas são táticas usadas pela pessoa que cometeu o abuso para buscar toda a atenção para ela.
Entre esses comportamentos estão o jogo de ciúmes ou infidelidade e a mentira. Também, a chantagem emocional em que se manipula o outro pelo medo ou pela culpa, ignorando-o completamente (comportamento passivo-agressivo), mostrando a outros uma conversa íntima (e-mail, WhatsApp, fotos...) e ainda o frequente hábito de reduzir ao mínimo as situações problemáticas do casal, fazendo parecer que aquilo é uma loucura, ou uma percepção enganada do outro.
Namoro e dominação adolescente
Em nossos estudos sobre violência no namoro entre adolescentes, as relações de domínio-dependência são apresentadas com um alto padrão de repetição. Entre os sintomas mais óbvios da dependência emocional, está a superação dos desejos da outra pessoa, o apego ao relacionamento e a disposição para o amor à custa das próprias aspirações ou valores.
O desafio consiste em aprender a identificar quando somos apanhados em um relacionamento prejudicial e quão benéfico pode ser para a vida de ambas as partes ao abandonarem esse relacionamento.
Faça a si mesmo estas perguntas
Estimular a auto-reflexão é uma estratégia que permite avaliar seu apego ao seu parceiro e pode ser exercida fazendo as seguintes perguntas:
- Estou fazendo isso apenas para agradar a outra pessoa?
- Estou concordando em ser diferente para manter essa pessoa ao meu lado?
- Essa atitude é realmente amorosa?
Operar de forma independente, alcançar uma forte conexão consigo mesmo e amar incondicionalmente nosso próprio ser é vital para viver o amor de um casal.
*Professora no departamento de Enfermagem, participante do grupo de pesquisa Mulher Enfermagem e Cuidado da Universidade de Múrcia.
**Professora da Pontifícia Universidade Católica do Equador - Faculdade de Enfermagem, participante do grupo de pesquisa Estudos sobre Prevenção da Violência (E-prev), PUCE, Quito-Equador.
©2020 The Conversation. Publicado com permissão. Original em espanhol.