Imagine que você teve uma discussão com um colega de trabalho e resolve telefonar ao seu marido ou sua mulher para desabafar. Seu cônjuge pode reagir de duas maneiras.
Ele pode reforçar que você estava certo, que seu colega estava errado e que você tem todo o direito de se chatear. Ou pode incentivá-lo a olhar objetivamente para a discussão, apontando as razões pelas quais talvez a culpa não seja totalmente de seu colega.
Qual dessas duas respostas você preferiria? Você gostaria de um cônjuge que o apoia incondicionalmente ou de um que faz o papel de advogado de diabo? Qual é melhor para você a longo prazo?
Em um estudo recente, exploramos os contornos e as repercussões dessa dinâmica comum nos relacionamentos.
Queremos apoio incondicional?
Se você é como a maioria das pessoas, provavelmente quer um parceiro que fique do seu lado. Todos nós tendemos a querer parceiros empáticos que nos compreendam, se importem com nossas necessidades e validem nossas opiniões.
Essas qualidades – que os pesquisadores da área chamam de responsividade interpessoal – são vistas como um ingrediente chave em relacionamentos fortes. Um estudo identificou que existe uma ligação entre ter um parceiro responsivo e ser uma pessoa feliz e segura de si.
Porém, ter um parceiro empático nem sempre é algo bom – especialmente quando estamos falando de conflitos exteriores ao relacionamento do casal. Quando discutimos com alguém, tendemos a minimizar a nossa parcela de culpa e exagerar o que o nosso adversário fez de errado. Isso pode tornar o conflito ainda pior.
Depois de nos envolvermos em discussão, costumamos nos voltar a nossos parceiros para desabafar e procurar apoio. Em nosso estudo, descobrimos que parceiros empáticos e carinhosos são mais propensos a concordar com a visão negativa que seus parceiros têm de seus adversários e a culpar esses adversários pelos conflitos.
Descobrimos também que as pessoas cujos parceiros reagiram dessa forma acabaram se tornando muito mais motivadas a evitar seus adversários e a vê-los como maus e imorais e menos interessadas em se reconciliar. De fato, 56% dos que tiveram como resposta esse tipo de empatia reportaram evitar os seus adversários, o que pode prejudicar a resolução do conflito e, com frequência, envolve o rompimento do relacionamento com eles.
Consequências de longo prazo
Essas dinâmicas se cimentam com o tempo. Elas impedem que as pessoas resolvam seus conflitos, mesmo que a reação dos parceiros seja emocionalmente gratificante. Por essa razão, continuam a desabafar com eles, criando mais oportunidades para aumentar o incêndio do conflito. As pessoas parecem procurar parceiros que acabam piorando seus conflitos ao longo do tempo.
Qual é a lição aqui? Geralmente queremos parceiros que façam com que nos sintamos compreendidos, cuidados e validados. E é natural que queiramos que as pessoas que amamos se sintam apoiadas.
Mas respostas tranquilizadoras e validadoras nem sempre são o melhor para nós a longo prazo. Assim como priorizar a gratificação emocional imediata em relação à busca de metas de longo prazo pode custar caro, há desvantagens quando os parceiros priorizam nos fazer sentir bem no momento em vez de nos ajudar a enfrentar adequadamente os problemas difíceis da vida desde uma perspectiva racional e imparcial.
Para aqueles que desejam apoiar melhor o bem-estar de longo prazo daqueles a quem amam, a dica é primeiro proporcionar empatia e uma oportunidade para desabafar, mas depois passar ao trabalho mais difícil de ajudá-los a pensar objetivamente sobre seus conflitos e reconhecer que, na maioria deles, ambas as partes têm alguma culpa e simplesmente veem a situação de perspectivas muito diferentes.
A verdade pode doer. Mas, às vezes, um confidente objetivo e desapaixonado é o que mais precisamos.
*Professores de Psicologia na Universidade de Maryland, nos Estados Unidos.
©2020 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.