Autoria:
Hellen Regina Grande, psicóloga formada pela Lumsa de Roma, especialista em concepção sistêmica pela Universidade Positivo e formação em terapia familiar sistêmica.
Priscila Pontes Carvalho M. Gomes, psicóloga formada pela Universidade Paulista (Unip), especialista em terapia individual e sistêmica.
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A cultura atual preconiza a ideia do adulto maduro: autossuficiente, independente. A pessoa adulta não depende de ninguém, não se apega, deixa relações sem sofrimento, parte pra outra sem grandes dificuldades. Depender possui uma conotação de despersonalização, como se nos deixássemos pelo outro e esse tomasse nossa individualidade, tornando-nos submissos aos seus desejos.
Mas, como amar sem depender? O psiquiatra inglês John Bowlby, estudioso das relações de apego, defende a ideia de que depender é a base das relações humanas e que o adulto saudável é aquele que possui uma “dependência efetiva”. Ele é capaz de virar-se para os outros em busca de apoio emocional, sendo esse um sinal e fonte de força.
Estamos habituados a pensar o amor como uma paixão passageira, disfarçada de atração sexual ou um tipo de necessidade imatura de depender dos outros, ou ainda, com a ideia de que o amor vem depois da paixão, o amor seria uma postura moral, um sacrifício abnegado que tem tudo a ver mais com o dar do que com o necessitar ou receber.
Pensar o amor como apego é uma contradição em relação a nossas ideias culturais, sociais e psicológicas estabelecidas sobre a idade adulta. Gostamos do mito do herói guerreiro invulnerável que enfrenta a vida e o perigo sozinho.
De acordo com estudos decorrentes da teoria de Bowlby, adultos que estabelecem relações nas quais suas necessidades emocionais são validadas, são mais seguros e mais confiantes de poder resolver por si mesmos seus problemas e atingirem com sucesso seus objetivos.
Pensar o amor como apego é uma contradição em relação a nossas ideias culturais, sociais e psicológicas
Quando nos sentimos geralmente seguros, isto é, estamos confortáveis com a proximidade e confiantes de poder depender das pessoas amadas, somos melhores em procurar apoio e também em dar apoio. Quando nos sentimos seguramente ligados aos nossos pares, suportamos mais facilmente as feridas que eles inevitavelmente nos infligem e somos menos propensos a ser agressivamente hostis quando nos irritamos com eles. Conexão segura com a pessoa amada nos fortalece e quanto mais estendemos a mão para nossos pares, mais separados e independentes podemos ser, embora isso contradiga o credo de autossuficiência de nossa cultura.
A Dra. Sue Jhonson, da Universidade de Otawa, conduziu pesquisas ao longo de 30 anos com centenas de casais e chegou a conclusão de que o adulto saudável é aquele que “sabe depender”, sabe dar legitimidade as suas necessidades emocionais, não se sente menor por isso, se entrega e se apoia no outro, e isso o torna mais seguro e eficiente em sua vida.
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