Quando se pensa em trabalho doméstico é automático fazer uma associação com a figura feminina. Embora hoje se perceba um movimento maior de homens que tomam as tarefas do lar para si, o tempo gasto pelas mulheres nas atividades de casa ainda continua sendo quase o dobro do tempo gasto por eles. Segundo pesquisa feita pelo IBGE em 2017, as mulheres passam 20,9 horas por semana realizando atividades domésticas, enquanto os homens dedicam apenas 10,8 horas nessas tarefas.
E já há muito tempo essas mesmas mulheres que cuidam da rotina de casa, fazem também parte do mercado de trabalho, acumulando assim dois “empregos”. Só que aquele relacionados ao lar parece ser invisível aos olhos de muita gente. E não raro se torna um perigo. Esse trabalho de gerenciar todas as atividades de casa – quando recaído apenas sobre a mulher – gera uma carga mental que prejudica sua saúde psicológica, emocional e até física.
A psicóloga Silvana Calixto explica que esse estresse é mais comum nas mulheres também porque elas costumam antecipar as situações e os possíveis problemas. É algo característico de grande parte das mulheres. O fato de pensar sem parar nas atividades que precisam ser realizadas e, além disso, imaginar o que pode acontecer a qualquer momento gera essa sobrecarga. E claro, as modulações hormonais sofridas também contribuem na intensidade desses sentimentos, de acordo com a especialista.
O perigo da carga mental está no fato de que ela é facilmente confundida com um cansaço comum. Quando se realiza muitas atividades durante o dia, naturalmente o cansaço vem, mas enquanto se consegue revigorar a força com uma boa noite de sono, está tudo certo. O problema é que na sobrecarga mental, a mulher acaba se fixando somente nas atividades que precisa desempenhar, seja por força do hábito ou da necessidade, e não consegue descansar.
Sentimento de culpa que reflete fisicamente
Mas pior do que não descansar, é ter a oportunidade de relaxar e acabar se sentindo culpada. Muitas mulheres vivem como se precisassem estar executando uma tarefa imprescindível a todo momento. E a conta dessa exigência é cobrada. “Você percebe que a pessoa começa a perder o prazer nas coisas, ela para de se alegrar, para de querer ter momentos de lazer”, explica Silvana. “Muitas mulheres já chegam no consultório manifestando síndrome do pânico, tendo crise de ansiedade, taquicardia, entre outros sintomas”, conta ela.
A frequência e intensidade de alguns sintomas físicos são as principais características a serem observadas, quando a carga mental chega a limites extremos, de acordo com a psicóloga Ana Caroline Bonato. “Dores, alergias, queda de cabelo, gastrite, mau funcionamento do intestino, aumento do desejo por alimentos são algumas amostras de há alteração severa na área emocional e psicológica”, explica. “E esse estado de saúde gera o sentimento de não dar conta, de incompetência, de solidão, desamparo e é muito comum que se perca até mesmo a identidade nesse momento”, afirma Ana Caroline.
Mudança de comportamento envolve também a família
Para superar essas alterações, a orientação de Ana às mulheres, é para que tomem cuidado para não se tornarem as únicas gerentes de casa. É importante que as pessoas que convivem no mesmo lar sejam convidadas a compartilhar tudo isso, entendendo que cada um tem seus deveres, responsabilidades, assim como tem direito de usufruir do ambiente. E, para isso, o diálogo é fundamental.
Mesmo em casas onde o trabalho é dividido igualmente com o homem e também com os filhos, muitas mulheres preferem “tomar as rédeas” e isso pode ser prejudicial não somente para ela, mas para toda a família. “É uma armadilha grande. Muitas mulheres acham que as coisas têm que ser feitas do jeito delas, no tempo delas, isso faz com que ela ache que somente ela pode dar conta de uma determinada tarefa”, explica Ana Caroline.
Por isso, superar todo esse estresse acumulado é um movimento que a mulher pode começar, ao compreender que ela não precisa dar conta de absolutamente tudo, e que pode e deve contar com a ajuda das outras pessoas. “Talvez alguém pendure a roupa de uma forma diferente do que ela, mas não quer dizer que seja ineficaz, só é um jeito diferente de fazer a mesma atividade. Esse é um cuidado bem importante, porque as vezes isso acaba sendo um tiro no pé”, alerta a psicóloga.
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