Trinta e cinco anos atrás, em 11 de maio de 1981, o mundo deu adeus àquele que foi chamado de “o primeiro superstar do Terceiro Mundo”, o cantor jamaicano Bob Marley. Robert Nesta Marley morreu em um hospital de Miami, nos Estados Unidos, aos 36 anos, depois de oito meses de luta contra o câncer. Além de ser o ícone máximo do reggae, Marley é lembrado por suas mensagens de fraternidade e de defesa dos mais oprimidos, na linha do movimento rastafári. Mas você sabia que ele se converteu ao cristianismo e foi batizado seis meses antes de morrer?
“Bob era realmente um bom irmão, um filho de Deus, independentemente de como as pessoas olhavam para ele”, contou Abuna Yesehaq, um religioso da Igreja Ortodoxa Etíope, em uma entrevista publicada em 1984 na Gleaner’s Sunday Magazine. “Ele tinha o desejo de ser batizado há muito tempo, mas havia pessoas próximas a ele que tentavam controlá-lo e que estavam ligadas a um ramo diferente do rastafári. Mas ele vinha à igreja regularmente. Lembro-me de uma vez em que, enquanto eu estava celebrando a missa, olhei para Bob e seu rosto estava coberto de lágrimas.”
Yesehaq chegou como missionário à Jamaica em 1970 e se tornou um grande amigo de Marley. Foi ele quem, anos depois, quando já era arcebispo, batizou o cantor, logo depois de seus últimos shows no Madison Square Garden. “Muitas pessoas acham que ele recebeu o batismo porque sabia que estava morrendo, mas não foi assim”, afirmou Yesehaq. “Ele foi batizado quando já não havia pressões sobre ele e, quando se batizou, abraçou sua família e choraram, choraram todos juntos durante mais de meia hora”.
O batismo aconteceu em 4 de novembro de 1980, na igreja etíope de Nova York. Segundo Yesehaq, estavam presentes apenas a esposa do cantor, Rita Marley, e os filhos. “Ele não queria que fosse nada muito oficial. Aquilo era difícil para ele”, conta o bispo. Tommy Cowan, amigo íntimo de Bob Marley, ouviu de Yesehaq a seguinte descrição do batismo: “Em um momento Bob chorou por 45 minutos sem parar, suas lágrimas molharam o chão. O Espírito Santo desceu sobre seu corpo e ele gritou três vezes: ‘Jesus Cristo, Jesus, meu Salvador, Jesus Cristo’”.
O funeral do cantor seguiu os ritos ortodoxos etíopes. A cerimônia, em Nine Mile, vila onde Marley nasceu, começou com um hino da tradição anglicana, “Ó Deus, nossa ajuda em épocas passadas”, acompanhado pelos percussionistas da United Africa Band. Yesehaq, que presidiu o rito, leu trechos do Evangelho de João em Ge’ez, uma antiga língua etíope. Outros excertos bíblicos, da Primeira Carta de Paulo aos Coríntios e da Primeira Carta de Paulo aos Tessalonicenses, foram lidos. No caixão, junto ao corpo do cantor, estavam a sua guitarra vermelha e uma Bíblia aberta no Salmo 23.
A família de Marley era cristã, mas na vida adulta ele abraçou o rastafarianismo, uma crença surgida na Jamaica que atribui um caráter messiânico a Haile Selassie, imperador da Etiópia de 1930 a 1974, chamado de Ras (“príncipe”) Tafari (seu nome antes da coroação). A tradição etíope diz que ele pertencia a uma dinastia real que remonta ao rei Salomão. Os adeptos do rastafarianismo consideram Selassie uma encarnação divina que voltará e reconduzirá a uma África com traços utópicos os negros oprimidos em todo o mundo.
No entanto, Selassie era um cristão ortodoxo etíope. O arcebispo Yesehaq, morto em 2005, afirmava que foi o próprio Selassie que o enviou à Jamaica para difundir a fé cristã e dissuadir do culto ao imperador etíope.
Como nome de batismo, Marley adotou um nome parecido com o do imperador: Berhane Selassie, que quer dizer “a luz da Trindade” – já Haile Selassie significava “o poder da Trindade”.
Yesehaq, ao ser perguntado se Marley havia renunciado a reconhecer Selassie como Deus, respondeu que, diante dele, nunca havia se referido ao imperador como uma divindade. “Ele me perguntava: ‘Quem é Cristo?’, e eu respondia: ‘É Jesus Cristo, aquele que foi crucificado’, e ele concordava”, contou o arcebispo. Ele recordou, no entanto, que o cantor era muito “diplomático” e jamais diria a Yesehaq algo que o contrariasse, pois o estimava muito.
Já o amigo Cowan foi mais enfático. “Marley, pouco antes de morrer, confessou Jesus Cristo como Senhor”, atestou. “Em outras palavras, ele negou que Haile Selassie era Deus e confessou a Jesus como o único Deus vivo e verdadeiro”.
A Igreja Ortodoxa Etíope, também conhecida como Igreja Ortodoxa Etíope Tewahido para ser diferenciada de outra denominação menos numerosa, é a segunda maior Igreja em número de fiéis de todo o mundo ortodoxo, atrás apenas da Igreja Ortodoxa Russa.
Com informações de Aleteia, Gospel Prime e Jorney to Orthodoxy.