Foto de mulher que tem vitiligo
Os acontecimentos da vida podem deixar marcas internas, mas também externas| Foto: Arquivo pessoal

Hoje falarei de Rita*, aos 48 anos ela me contou um pouco de sua história. História que para ela de certa forma inicia aos 14 anos, curioso. Ela explica que não tem memória de muitos acontecimentos e até mesmo das situações do dia a dia vividas antes da morte de sua mãe. ”É como se eu tivesse um bloqueio, não me lembro. Não me lembro das situações e até mesmo da minha mãe. Se eu brincava como todas as crianças? Brincava, mas não lembro de muita coisa.”

”É como se eu tivesse um bloqueio, não me lembro. Não me lembro das situações e até mesmo da minha mãe. Se eu brincava como todas as crianças? Brincava, mas não lembro de muita coisa.”



Rita perdeu sua mãe aos 14 anos, além da dor do luto, a morte de sua mãe trouxe algumas consequências muito concretas em seu viver. A esteticista teve um bloqueio em sua memória da infância e pré-adolescência, e fisicamente desenvolveu o Vitiligo, doença caracterizada pela perda da coloração da pele. No seu caso foi desencadeada por um trauma emocional. “Começou com uma pequena mancha no braço, pensava que era micose, depois de 3 anos apareceram no rosto, aí fui diagnosticada. Hoje tenho no corpo todo”.


“Começou com uma pequena mancha no braço, pensava que era micose, depois de 3 anos apareceram no rosto, aí fui diagnosticada. Hoje tenho no corpo todo”.



Apesar da mudança na pele, que aos poucos foi se acentuando, Rita diz conviver bem com a doença hoje. Na adolescência e juventude foi mais difícil aceitar e se ver com as manchas pelo corpo. Mas como ela mesma pontua, aprendeu a se ver assim e aceitar que é assim. Atualmente entende que seu valor, sua identidade, não se limita a aparência física.

Outro aspecto pós luto é a dificuldade de falar sobre tal situação que não se limita a ela. Seus irmãos também nunca falam sobre o assunto: Eu e meus dois irmãos nunca falamos sobre minha mãe, muito menos sobre a morte dela. Minha mãe escondeu que estava com câncer, eu soube depois da sua morte, meus irmãos também souberam depois. Com certeza ela quis nos poupar.

Depois da morte da mãe, cada irmão foi morar em uma casa diferente. O irmão mais velho, 16 anos, ficou com o pai, o mais novo, 7 anos, com a avó e Rita, com 14 anos ficou com sua tia. Viveu até os 26 anos com ela e depois se casou.

Após 8 anos de casamento, engravidou, outro marco. Esse marco foi capaz de transformar sua vida “existiu uma Rita antes e uma depois da minha filha, não sei explicar, temos uma ligação muito forte, que vai além dos laços de mãe e filha”.

Entre mãe e filha

Realmente há uma ligação toda especial, o que me chamou a atenção para entrevistá-la a princípio, foi a relação de companheirismo entre mãe e sua filha.

“Talvez o carinho que me faltou da minha mãe, eu empenho nela”, isso não no sentido de mimá-la, mas como Rita enfatiza: Eu sei a importância e a falta que uma mãe faz. Eu espero viver muito e que ela tenha um futuro que eu esteja ao seu lado quando ela precisar.

“Eu sei a importância e a falta que uma mãe faz. Eu espero viver muito e que ela tenha um futuro que eu esteja ao seu lado quando ela precisar. ”



A vinda de Maria* lhe mostrou muitas coisas, o autoconhecimento é uma delas, na leveza e sinceridade que a filha trouxe, pôde se descobrir aos poucos e percebe que mesmo diante das situações diversas da vida, por mais marcantes que sejam, não devem paralisá-la, ou até mesmo definir quem ela é.

Inclusive, as características de Rita vão além de tudo que viveu, um coração muito generoso, um bom humor e uma simplicidade na vida e no seu dia a dia, contagiam.

*Nomes fictícios, pois a entrevistada preferiu não se identificar

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