Todo pai e mãe sabe que na Netflix há conteúdos ótimos para os filhos, mas também há muita porcaria. Por isso acho que é uma grande irresponsabilidade largar o controle na mão das crianças para que escolham à vontade. O risco de assistirem programas completamente inapropriados é enorme, mesmo quando eles se mantém na seção “Crianças” do Netflix, que está repleta de programas para adolescentes – ruins sob vários aspectos.
Só que dessa vez a Netflix resolveu anunciar um programa que supera qualquer outro conteúdo original do streaming no quesito mal gosto. Trata-se do desenho animado Super Drags, no qual os protagonistas são drag queens que viram “super-heroínas”. Segundo descrição feita pela própria Netflix, eles “de dia, trabalham numa loja de departamento e têm que aguentar o chefe escroto. De noite, eles aquendam a neca e se transformam nas super drags, prontas para salvar o mundo da maldade e da caretice, enfrentando um vilão desaplaudido a cada episódio”.
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Felizmente, a animação ainda não está disponível na plataforma, só que para a preocupação de todas as famílias clientes da Netflix, a empresa irresponsavelmente ainda não informou se o desenho animado será destinada a crianças ou não. Ainda que seja classificada para adultos, convenhamos, certamente há uma parcela gigantesca de clientes da Netflix que consideram que, se é desenho animado, é para crianças, já que é historicamente uma linguagem audiovisual voltada mesmo ao público infantil. Se a empresa não quiser ser acusada de flertar com a erotização infantil ou com coisas ainda mais degradantes devia se pronunciar de uma vez por todas.
Essa demora, claro, resulta em reações – justas e necessárias. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), por exemplo, publicou nota repudiando a animação.
Leiam o texto:
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NOTA À SOCIEDADE E AOS MÉDICOS
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), em nome de cerca de 40 mil especialistas na saúde física, mental e emocional de cerca de 60 de milhões de crianças e adolescentes, vê com preocupação o anúncio de estreia, no segundo semestre de 2018, de um desenho animado, a ser exibido em plataforma de streaming, cuja trama gira ao redor de jovens que se transformam em drag queens super-heroínas.
A SBP respeita a diversidade e defende a liberdade de expressão e artística no País, no entanto, alerta para os riscos de se utilizar uma linguagem iminentemente infantil para discutir tópicos próprios do mundo adulto, o que exige maior capacidade cognitiva e de elaboração por parte dos espectadores.
A situação se agrava com o fim da Classificação Indicativa, decretado em sentença do Supremo Tribunal Federal (STF) que declarou inconstitucional o dispositivo do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que estabelece multa e suspensão às emissoras de rádio e TV ao exibirem programas em horário diverso do autorizado pela classificação indicativa.
Essa decisão deixa crianças e adolescentes dependentes, exclusivamente, do bom senso das emissoras de TV e plataformas de streaming, agregando um complicador a mais às relações delicadas existentes no seio da família, do ambiente escolar e da sociedade, de forma em geral.
Isso por conta do risco de exposição indevida desse segmento, por meio de programas, como esse desenho animado, a imagens e conteúdos com menções diretas e/ou indiretas a situações de sexo, de violência, de emprego de linguagem imprópria ou de uso de drogas.
Vários estudos internacionais importantes comprovam os efeitos nocivos, entre crianças e adolescentes, desse tipo de exposição. Ressalte-se o período de extrema vulnerabilidade pela qual passam esses segmentos, com impacto em processos de formação física, mental e emocional.
Sendo assim, a SBP reitera seu compromisso com a liberdade de expressão e com a diversidade, mas apela à plataforma que cancele esse lançamento, como expressão de compromisso do desenvolvimento de futuras gerações.
Além disso, a SBP pede aos políticos que, considerando a impossibilidade de recurso à decisão do STF, reabram o debate sobre a retomada da Classificação Indicativa ouvindo a contribuição dos especialistas, o que permitirá encontrar solução que não comprometa questões artísticas e assegure mecanismos de proteção para o público composto por crianças e adolescentes.
Rio de Janeiro (RJ), 16 de julho de 2018
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)
Fonte: site oficial da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)
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O Dinossauros e Princesas recomenda aos leitores que façam duas coisas: 1) entrem em contato com a Netflix e exponham o repúdio à nova animação. Você pode fazer isso mandando uma mensagem pelo próprio aplicativo do streaming ou ligando para 0800 887 0201; 2) enviem uma mensagem à Sociedade Brasileira de Pediatria elogiando a nota. Você pode fazer isso aqui ou pelas redes sociais da entidade, como sua página no Facebook.
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