Questionar é bom, e isso também vale para relatórios da OMS
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A reportagem que escrevi para a Gazeta do Povo, publicada no dia 13 de novembro, sobre os números do aborto tem muitos aspectos nos quais gostaria de me aprofundar. Um deles é o excesso de crédito dado a todo relatório que vem de organismos das Nações Unidas. Acho que, assim como qualquer outra entidade política, os estudos emitidos por ela deveriam ser questionados e checados, principalmente pela imprensa que os noticia. Não é o que ocorre.

A matéria mostrou que um dos maiores argumentos estatísticos para a legalização do aborto, os supostos milhões de mortes por aborto no Brasil, é completamente falso, e sua versão menos fantasiosa, os milhões de abortos clandestinos, é no mínimo frágil. Essa história toda só se difundiu graças a um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicado no início de 2012.

Ao que parece, na época, pouquíssimos jornalistas no Brasil se deram ao trabalho de ler o texto original, provavelmente, por se contentarem com o que vêm das agências de notícias internacionais. Isso ajuda a explicar como praticamente nenhum veículo notou o vínculo entre a maior rede de clínicas de aborto nos Estados Unidos, a Planned Parenthood, e a pesquisa da OMS sobre aborto clandestino. A relação abre brechas para evidentes influências nos resultados, especialmente por se tratar de um levantamento que depende tanto de opiniões.

Em qualquer texto que se pretenda isento, essa “ressalva” deveria ao menos ser citada, pois afeta em cheio a credibilidade de todos os dados que vem em seguida.

Confiram alguns trechos da matéria:

 

Uma das entidades citadas no filme [Blood Money – Aborto Legalizado] é o Instituto Guttmacher, que no ano passado divulgou uma pesquisa em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS). O estudo Aborto Induzido: Incidências e Tendências pelo Mundo de 1995 a 2008 alarmou as autoridades ao estimar em 4 milhões o número de abortos clandestinos na América Latina no período. Para especialistas, o problema desse levantamento é que ele foi feito com base em estimativas. Além disso, os números se referem a regiões do mundo e não a países individualmente.

Exagero

Depois da publicação, algumas instituições brasileiras chegaram a denunciar a ocorrência de 1 milhão de mortes maternas por complicações pós-aborto. Esse dado, porém, não encontra respaldo no Ministério da Saúde, que informou não saber mensurar a quantidade de óbitos por aborto clandestino no país.

Para o doutor em Ciências Biomédicas Elard Koch, autor de pesquisas envolvendo mortalidade materna e aborto no Chile, há sérios problemas no relatório da OMS. Para ele, ao falar em 4 milhões de abortos ilegais no continente, o Instituto Guttmacher superestimou em até 18 vezes as estimativas mais plausíveis.

Num relatório de resposta à OMS, uma equipe de peritos liderada pelo cientista lamentou os métodos do estudo, baseados excessivamente em opiniões, e afirmou que os números estão além do empiricamente possível. “A metodologia desenvolvida parece inflar grosseiramente o número possível de abortos induzidos em países em desenvolvimento”, afirma.

Origem duvidosa

Além da controvérsia quanto aos números sobre aborto ilegal, outro aspecto que leva organizações contrárias à prática a desacreditar a pesquisa da Organização Mundial da Saúde é o vínculo entre o Instituto Guttmacher e a Planned Parenthood, maior rede de clínicas de aborto nos Estados Unidos. O instituto foi criado pela organização em 1968 e, embora afirme em sua página na internet ser financeira e juridicamente independente desde 1977, mantém em sua missão corporativa a luta pelo “direito de escolher o aborto legal e seguro”.

Leia a íntegra da matéria

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Assista ao documentário Blood Money – Aborto Legalizado.

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