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O debate promovido pela CNBB nesta terça-feira frustrou as expectativas de quem esperava ver os principais candidatos falando de temas moralmente relevantes e polêmicos. O formato engessado dos primeiros blocos acabou fazendo com que a maioria das perguntas mais aguardadas caíssem para candidatos nanicos responderem. Assim, Dilma, Marina e Aécio nem chegaram a mencionar a palavra aborto.

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O tema sobrou para Eduardo Jorge, do PV, que já havia manifestado toda sua empolgação com o tema no primeiro debate, transmitido pela TV Band, defendendo apaixonadamente a legalização da prática. No evento desta terça, o candidato não se intimidou por estar falando de um estúdio localizado dentro do Santuário de Aparecida, e declarou a plenos pulmões que o aborto tem mesmo é que ser legalizado. O diferente é que dessa vez ele soltou um daqueles números mágicos, reproduzido à exaustão por entidades feministas e, às vezes, por colegas jornalistas com preguiça de apurar.

Eduardo Jorge disse que ocorrem 800 mil abortos clandestinos por ano no país. De onde veio o número? Ele não disse e provavelmente não saiba, afinal nenhum órgão oficial do país contabiliza o número abortos clandestinos, pois isso é simplesmente impraticável.

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Como os abortistas não podem contar com dados do Ministério da Saúde, para endossar seus devaneios apelam às “estimativas” da Organização Mundial de Saúde (OMS) que constam no estudo “Aborto Induzido: Incidências e Tendências pelo Mundo de 1995 a 2008” . Na verdade, as estimativas são encomendadas pela OMS e produzidas pelo Instituto Guttmacher, entidade criada por nada mais, nada menos que a Planned Parenthood, a maior rede de clínicas do aborto nos Estados Unidos. Aí começa o descrédito do levantamento, mas há mais razões para considerar o número uma completa fantasia.

Em momento algum do estudo, a quantidade abortos por país é citada. Fala-se apenas em estimativas por regiões, e o Brasil estaria incluso dentro da região América Latina, região na qual, segundo o estudo, ocorreriam cerca de 4 milhões de abortos por ano.

A metodologia da pesquisa que gerou esse número é questionável em vários pontos e foi desconstruída em estudos posteriores (explico no fim do texto), mas o ponto mais curioso é que para chegar ao número de abortos clandestinos no Brasil é preciso um pouco de criatividade matemática dos interessados. Pega-se a população total da América Latina, determina-se aproximadamente a participação do Brasil nesse total e pronto, da média você tira o incrível número de abortos clandestinos ocorridos no país. É a estimativa da estimativa, baseada completamente em abstrações, sem nenhum dado oficial.

A imprecisão é escandalosa, e os números surgidos desse malabarismo é que são usados como argumento para justificar possíveis mudanças do Código Penal ou na criação de políticas públicas.

No ano passado, tive a oportunidade de escrever uma reportagem sobre o tema para a Gazeta do Povo. Nela explico um pouco mais o que resumi acima e mostro porque há razões para desconfiar até mesmo da estimativa para a América Latina. Confiram um trecho:

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“Para o doutor em Ciências Biomédicas Elard Koch, autor de pesquisas envolvendo mortalidade materna e aborto no Chile, há sérios problemas no relatório da OMS. Para ele, ao falar em 4 milhões de abortos ilegais no continente, o Instituto Guttmacher superestimou em até 18 vezes as estimativas mais plausíveis.

Num relatório de resposta à OMS, uma equipe de peritos liderada pelo cientista lamentou os métodos do estudo, baseados excessivamente em opiniões, e afirmou que os números estão além do empiricamente possível. “A metodologia desenvolvida parece inflar grosseiramente o número possível de abortos induzidos em países em desenvolvimento”, afirma”.

Leia a íntegra da reportagem.

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