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É inevitável. Quando um ativista pró-vida brasileiro participa da March for Life imediatamente começa a pensar em como fazer algo daquele porte e intensidade na terra natal. Claro que as marchas pela vida já acontecem no Brasil há pelo menos uma década, mas, comparadas ao que ocorre em Washington, permanecem sendo atos de protesto bem-intencionados com estrutura rudimentar e alcance limitado.

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Com base na inesquecível experiência que tive ao participar da March for Life de 2019, arrisco alguns tópicos de análise que penso serem fundamentais para o movimento pró-vida brasileiro refletir.

 

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Institucionalização

 

A March for Life de Washington não é promovida por uma das muitas entidades pró-vida que atuam cotidianamente pelo fechamento de clínicas de aborto, pelo acolhimento de gestantes vulneráveis ou na articulação política. Não. Para a March for Life chegar a tornar-se aquilo que é foi criada uma fundação que cuida especificamente deste evento anual. Termina um, começa a preparação do próximo. Somente com tal foco é possível arrecadar os recursos necessários e fomentar uma participação tão numerosa como a que se vê todos os anos.

Quem cuida da March for Life é a March for Life Education and Defense Fund, organização sem fins lucrativos que dispõe de alguns funcionários e uma legião de voluntários. Desde 2012 ela é presidida por Jeanne Mancini (foto) que, conforme pude comprovar pessoalmente, desperta profunda admiração em todas as pessoas que se engajam na organização do evento. Em mais de uma ocasião ouvi seus colaboradores a definindo como “uma líder incrível”, “uma mulher muito virtuosa” e “uma gestora extremamente competente”.

 

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Articulação nacional

Visualmente, uma das coisas que mais chama a atenção na March for Life é a quantidade de grupos de jovens uniformizados e com canções próprias que chegam ao evento em numerosas caravanas. Eles vêm de igrejas, dioceses, escolas, clubes e associações, todas convidadas diretamente pela organização da marcha, que ainda disponibiliza equipes para cuidarem especialmente do incentivo e recepção a esses grupos.

Não se trata de simplesmente criar eventos no Facebook ou anunciar por diferentes redes sociais. Eles criam uma verdadeira rede de articuladores, e apostam no relacionamento com os líderes de grupos, de modo a garantir uma entusiasmada multidão no dia da marcha. É assim que criam uma “cultura da vida” permanente, e que não precisa ser lembrada apenas quando a marcha se aproxima. Em cada cidade, esses líderes promovem atividades e contribuem de algum modo com a marcha ao longo de todo o ano. Funciona muito bem.

 

Feira

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Conforme mostrei num post recente, no dia anterior à marcha ocorre a EXPO da March for Life, que consiste numa feira com stands ocupados pelas muitas instituições que apoiam o evento. Lá estão organizações religiosas (católicas e protestantes), entidades pró-vida de perfil laico, escritores e produtores de filmes dedicados a temas familiares, escolas e universidades confessionais, etc. Nesse espaço – que sempre é montado dentro de um elegante hotel – cada expositor divulga suas atividades ou mensagem por meio de folders, faixas, livretos e até vendem seus próprios produtos, a maioria repleta de mensagens pró-vida, como camisetas, bonés, moletons, gorros e cachecóis. Os produtos oficiais da March for Life, com a logomarca própria de cada edição, também podem ser adquiridos nesse momento.

Paralelamente à feira, no mesmo hotel, ocorrem palestras, testemunhos e oficinas dedicadas ao público pró-vida cuja programação é divulgadas previamente e requer inscrição.

Também é no espaço da EXPO que os organizadores e os convidados especiais daquele ano costumam conceder entrevistas coletivas, contribuindo em muito para a divulgação da marcha no dia seguinte.

 

Jantar de encerramento

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É a cereja do bolo, o coroamento de uma ação que levou um ano para ser planejada, mas que valeu muito a pena, sob todos os ângulos. Inclusive financeiros.

O Rose Dinner – nome dado em homenagem a uma das criadoras da March for Life, cujo nome era Rose – é um jantar beneficente, elegante e sofisticado, com música ao vivo e comida de primeira. Muitos dos lugares no salão são reservados para os patrocinadores do evento e convidados especiais, mas também é possível comprar um ingresso para o jantar – o que costuma ser consideravelmente caro (varia de US$ 100 a US$ 2.500, dependendo do lugar no salão).

Eu tive a grande satisfação de participar do Rose Dinner deste ano e constatei todo o potencial daquele momento. Ali estão empresários, políticos e outras lideranças influentes. A maioria é formada por apoiadores convictos de longa data, mas também é para esta ocasião que vão aqueles não tão próximos da causa pró-vida, mas abertos a serem convencidos sobre a importância da marcha, bastando para isso uma gentil acolhida.

O convite a personalidades de destaque para que discursem no evento é o principal chamariz para atrair novos apoiadores e renovar a convicção dos que já investem anualmente. Na edição desse ano, o convidado de honra foi ninguém menos do que o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence (foto).

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Clareza da Mensagem

A March for Life não é adepta das firulas semânticas comuns em algumas manifestações que tentam ser pró-vida no Brasil. Trata-se de uma ação para acabar com o aborto naquele país, e isso é anunciado com clareza e objetividade. Por aqui, o receio de se indispor com a esquerda política – que vergonhosamente ainda mora no coração de muitos clérigos – transforma algumas autênticas tentativas de combate ao aborto em atos de mensagens diluídas em mil e uma pautas, de modo a rebaixar a defesa da vida desde a concepção a uma reivindicação secundária, normalmente inferior, por exemplo, às bandeiras da ecologia ou combate à pobreza. Para os traidores enrustidos que provocam esse tipo de resultado, o foco específico na defesa dos nascituros nunca é adequado, sendo sempre necessário fazer com que a mensagem divida atenções com assuntos mais simpáticos aos seus círculos de amizade.

A independência da fundação responsável pela March for Life em relação às hierarquias religiosas é certamente determinante para que o evento não sofra desse mal. No Brasil, essa independência devia ser cada vez mais perseguida. Quanto menos dependermos da liderança de bispos, padres e pastores comprometidos com ideais contrários aos da defesa da vida, ou simplesmente covardes, o movimento pró-vida jamais se tornará a força social que tem vocação para ser.

 

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OBS: o jornalista viajou a convite do senador eleito Eduardo Girão.

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Sobre a March for Life 2019, leia também:

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