Primeiro devo dizer que para mim é o melhor filme de ficção científica já feito, e de toda obra deste gênero podemos tirar bons temas para discussão. Então vamos nos aprofundar nessa viagem.
Segundo, todo filme de ficção científica tem como objetivo explorar anseios “científicos” por parte do espectador, sejam estes anseios filosóficos ou puramente científicos. Esta motivação que faz com que Star Trek (Jornada nas Estrelas) possa ser qualificado como ficção científica, e Star Wars (Guerra nas Estrelas) ser qualificado como aventura espacial (sei que há quem conteste esta afirmação e estou me arriscando em fazê-la, mas é o que penso).
Feitas essas considerações, vamos ao filme propriamente dito. O filme mostra que os replicantes tem um tempo de vida limitado a 4 anos, e o enredo trata do desejo destes androides em buscar encontrar o seu criador para que ele possa aumentar o seu tempo de vida.
É exatamente aqui que temos que mudar nosso ponto de vista e sair do que a imagem nos proporciona, pois a nossa semelhança não está nos humanos do filme que estão preocupados com a “ameaça” androide, mas sim no próprio replicante que busca o seu criador para a solução de seu problema.
A humanidade tem seus anseios, medos e desejos, e costumeiramente busca seu Criador para soluciona-los e nem sempre se tem a resposta desejada. O mesmo ocorreu com os replicantes no filme, pois as criaturas (androides) buscaram do seu criador a solução para seu limitado tempo de vida e este disse que não tinha como ajuda-los, não porque não queria, mas apenas porque ele já havia tentado e não conseguiu.
A seguir vem alguns spoilers, mas este é um filme a ser visto independentemente deles.
A conversa entre criatura e criador foi assim: “o criador pode consertar a criação?” – pergunta o replicante Roy, que ouve de seu criador Tyrel o seguinte: “Fazer alterações na evolução de um sistema orgânico é fatal. Um código genético não pode ser alterado depois de estabelecido. Quaisquer células que tenham sofrido mutações de reversão dão origem a colônias reversas, como ratos abandonando o navio (…)” E Tyrel conclui: “A luz que brilha o dobro arde a metade do tempo. (…) Você foi feito o melhor possível. Mas não pode durar”.
Sem a resposta desejada, os replicantes fizeram algo que muitos fazem até hoje: mataram seu criador.
Esta bem claro que os androides não aceitam a sua condição e que rejeitam a sua identidade, a tanto que durante o filme fazem comparações de suas vida com a dos homens. Não é à toa que o replicante Roy traduz essa diferença ao dizer na brilhante cena mais ao final do filme: “Eu vi coisas que vocês nunca acreditariam. Naves de ataques em chamas perto da borda de Orion. Vi a luz do farol cintilar no escuro, na Comporta Tannhauser. Todos esses momentos se perderão no tempo como lágrimas na chuva.” E conclui, dizendo: “É hora de morrer”.
Assim como alguém que se sente injustiçada por algo, olha para a outra pessoa e diz o que ela tem de mais importante em uma comparação, como se isso fosse a razão pela qual ela merece um “tratamento especial” e ter seu pedido atendido, e se não for, será como se tudo aquilo de tão importante na vida dela não valesse de nada e fosse se perder “no tempo como lágrimas na chuva”.
Para que o homem possa ser feliz dentro do que lhe foi proporcionado, deve ele buscar viver a plenitude do que é, e não fazer como os replicantes e rejeitar o que são e passar todo seu tempo de existência correndo atrás de mudar sua identidade.
O filme é uma bela obra que nos leva a refletir sobre a condição humana diante de seu criador, e qual a nossa resposta diante disso. É um filme para ser assistido e reassistido e reassistido constantemente, tanto pela imensa qualidade da obra quanto pela profunda reflexão que nos leva.
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Nota:
Sinopse: No século 21, um policial (Harrison Ford) é designado para exterminar androides, conhecidos como Replicantes, que se revoltaram contra o sistema e se misturaram aos seres humanos.
Ficha técnica:
Gênero: Ficção Científica
Direção: Ridley Scott
Roteiro: Darryl Ponicsan, David Peoples
Elenco: Bob Okazaki, Brion James, Carolyn DeMirjian, Daryl Hannah, Edward James Olmos, Harrison Ford, Hy Pyke, James Hong, Joanna Cassidy, Joe Turkel, John Edward Allen, Kevin Thompson, Kimiko Hiroshige, M. Emmet Walsh, Morgan Paull, Rutger Hauer, Sean Young, William Sanderson
Produção: Charles de Lauzirika, Michael Deeley
Fotografia: Jordan S. Cronenweth
Trilha Sonora: Vangelis
Duração: 118 min.
Ano: 1982
País: Estados Unidos / Honk Kong
Estúdio: Michael Deeley Production / Ridley Scott Productions / Shaw Brothers / The Ladd Company / Warner Bros. Pictures
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