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Ontem (13/01), a Santa Sé iniciou o caminho de preparação para a 15ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que se realizará em outubro de 2018. O tema, anunciado em outubro de 2016, é fundamental: “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”. Quanta confusão ainda existe na Igreja quando se fala de vocações!

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Para dar início a esse caminho, foi publicado um documento preparatório, que já contém algumas pistas para a reflexão. É um documento curto e bastante sumário, mas que reflete de modo profundo algumas questões importantes que poupariam muita dor de cabeça aos jovens que estão discernindo a sua vocação. À luz desse documento, eu gostaria de propor três pequenas reflexões sobre o discernimento vocacional. Espero que ajudem quem está nesse caminho.

Não existem só duas ou três vocações

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Casar ou ser padre/freira? Casamento, sacerdócio ou vida leiga consagrada? Engessar os possíveis caminhos vocacionais dessa maneira leva a pessoa em discernimento a tentar se encaixar em alguma opção pré-concebida, em vez de discernir a partir de sua própria singularidade, à luz do seu relacionamento com Deus. No livro-entrevista Luz do mundo, o jornalista Peter Seewald perguntou a Bento XVI quantos caminhos existem para chegar a Deus. O então papa respondeu: “Tantos quanto há pessoas”. Isso se aplica muito bem à realidade do discernimento vocacional. O documento de preparação para o sínodo lembra disso elencando uma série de opções que configuram, todas elas, a vocação pessoal de cada um: “estado de vida (matrimônio, ministério ordenado, vida consagrada, etc.), profissão, modalidade de compromisso social e político, estilo de vida, gestão do tempo e do dinheiro, etc.”

Há tanta riqueza nos sonhos de Deus! Um padre diocesano que se torne professor universitário vive uma vida bem diferente da de um pároco. Um casal que se dedica cada um à sua profissão dá um testemunho sob muitos aspectos diferentes de um casal que se dedica exclusivamente a atividades de evangelização. Um diácono, geralmente, une em sua vida o testemunho de esposo e pai e o testemunho de clérigo. Se pensarmos em um leigo envolvido no mundo da política, outro médico, outro cobrador de ônibus e outro ainda ator, percebemos que cada um deles tem a sua própria vocação, o seu próprio jeito de tornar Deus presente no mundo. E mesmo dentro de cada profissão há formas diferentes de viver a vocação. “O propósito do discernimento vocacional é descobrir como transformá-las, à luz da fé, em passos rumo à plenitude da alegria a que todos estamos chamados”, diz o documento.

A abertura a diversas possibilidades faz parte do chamado

Talvez alguém tenha pensado, ao ler o parágrafo anterior, que um seminarista diocesano, por exemplo, não tem muita autonomia para decidir se vai ser pároco ou professor. Basta pensar, por exemplo, em Bento XVI e nas contínuas renúncias que o Senhor lhe pediu: ao magistério no mundo acadêmico, ao pastoreio de uma diocese, a uma velhice sossegada, ao próprio papado. É verdade, boa parte daquilo que a nossa vocação será não está totalmente em nossas mãos. Isso é normal. Ao citar o primeiro encontro de João e André com Jesus (cf. Jo 1, 35-39), o documento diz que “Jesus os chama ao mesmo tempo a um caminho interior e a uma disponibilidade de se pôr concretamente em movimento, sem saber bem aonde isso os levará”.

Muita coisa pode acontecer com um padre depois da sua ordenação: pode se tornar pároco, pode ser chamado a se tornar missionário em terras distantes, pode se dedicar a um projeto de apostolado bem específico, pode se tornar bispo, etc. O mesmo se pode dizer de um casal: se um dos seus filhos nascer com alguma deficiência, por exemplo, a sua vida mudará radicalmente – e é necessário estar aberto a essas possibilidades. Essa indefinição fundamental faz parte da vocação e ajuda o nosso coração a não se fechar na paralisia da comodidade, mas a sempre crescer em generosidade e, assim, viver verdadeiramente a alegria do amor.

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A fé é a fonte do discernimento vocacional

O documento diz que “a fé é a fonte do discernimento vocacional”. Parece óbvio? Deveria parecer, mas na prática não é bem assim. Quantas vezes o discernimento vocacional aparece desligado da vida de fé, da busca de comunhão com Deus, sobretudo quando se é muito novo: pense-se, por exemplo, em um garoto que vê o sacerdócio como uma opção de profissão ao lado das outras, mas que sequer percebeu minimamente em que consiste ser cristão. Às vezes, os próprios processos de acompanhamento oferecido por dioceses e congregações passam por alto essa questão fundamental: a fé, uma opção de fé decidida por Cristo, uma experiência pessoal de fé.

O resultado: quantos jovens passaram alguns anos se batendo para descobrir a sua vocação e saíram desse conflito com uma fé morna ou já morta? Quantos jovens, hoje, assíduos nos sacramentos, na oração, na vida em comunidade, passam boa parte do tempo agonizando com dúvidas vocacionais, em vez de priorizar o simples chamado a ser cristão, seja qual for a situação da sua vida neste momento? Não é dessa confusão que floresce o chamado específico de cada um. A vocação específica é um desdobramento quase que natural do desejo de amar e servir que o Senhor acende em nossos corações.
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Leia também: Como funciona o discernimento vocacional?

E mais: entrevistamos o padre Amedeo Cencini, referência em discernimento vocacional, e ele respondeu: dá para errar a vocação?

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