Os cardeais Sako, Ribat, Tsarahazana e Bo.
Os cardeais Sako, Ribat, Tsarahazana e Bo.| Foto:

“Entende-se melhor a realidade não a partir do centro, mas das periferias”, disse o Papa Francisco na primeira vez em que visitou uma paróquia como bispo da Diocese de Roma, em maio de 2013, dois meses após a sua eleição. Nada mais coerente, portanto, do que dar à periferia o lugar central. É por isso que os quatro presidentes delegados da XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que refletirá sobre os jovens, a fé e o discernimento vocacional, vêm todos de países periféricos: um iraquiano, um malgaxe, um mianmarense e um papuásio.

Junto a outro cargo chave do sínodo, o de relator-geral, isso significa que os cinco cargos mais relevantes da assembleia serão ocupados por cardeais do Sul Global, já que a relatoria-geral está nas mãos do arcebispo de Brasília e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Dom Sérgio da Rocha.

Nomeados pelo papa neste sábado (14/07), os presidentes delegados – que dirigem os trabalhos da assembleia, atribuem funções a outros membros do sínodo e assinam as atas finais – são o cardeal Louis Raphaël I Sako, patriarca de Babilônia dos Caldeus; o cardeal Désiré Tsarahazana, arcebispo de Toamasina; o cardeal Charles Maung Bo, arcebispo de Yangon; e o cardeal John Ribat, arcebispo de Port Moresby. Eles têm respectivamente 70, 64, 69 e 61 anos de idade.

Os cardeais Sako e Tsarahazana receberam o barrete vermelho há menos de um mês, no último consistório para a criação de cardeais presidido por Francisco. Bo, Ribat e Rocha também foram criados cardeais pelo atual pontífice entre 2015 e 2016. Os quatro se revezarão na presidência do sínodo, que acontecerá entre 3 e 28 de outubro.

Universalidade

É verdade, porém, que desde o começo a presidência das assembleias do Sínodo dos Bispos – que refletem e traçam propostas pastorais sobre temas importantes para a Igreja e a sociedade – foram caracterizadas por uma significativa universalidade. Ainda no pontificado do Beato Paulo VI, por exemplo, a II Assembleia Geral Ordinária, que aconteceu em 1971 e tratou da relação entre a missão do presbítero e a busca da justiça, tinha como presidentes um argelino, um equatoriano e um norte-americano e como relatores-gerais um alemão, um espanhol e um filipino.

Em seu pontificado, São João Paulo II também prezou por isso. A primeira assembleia geral ordinária do seu pontificado, sobre a família em 1980, tinha como presidentes um argentino, um indiano e um beninense. O relator-geral era um alemão – ninguém menos do que Joseph Ratzinger, então arcebispo de Munique e Freising. O mesmo aconteceu quando Ratzinger se tornou Bento XVI: a primeira assembleia geral ordinária do seu pontificado, sobre a eucaristia em 2005, teve como presidentes um nigeriano, um mexicano e um indiano. O relator-geral era um italiano.

A primeira assembleia geral ordinária sem nenhum europeu nesses postos foi a de 2008, sobre a Palavra de Deus, em que Bento XVI nomeou um norte-americano, um australiano e um brasileiro – o cardeal Odilo Pedro Scherer – como presidentes e um canadense como relator-geral. Na seguinte, em 2012, sobre a nova evangelização, Bento repetiu o movimento e chamou um chinês, um mexicano e um congolês como presidentes e um norte-americano como relator.

A novidade é que no sínodo de outubro essas duas funções chaves, a de presidente delegado e a de relator-geral, serão pela primeira vez desempenhadas apenas por cardeais de fora da Europa e da América do Norte, ou seja, de países em desenvolvimento. Além disso, eles vêm de regiões que são periféricas até mesmo em relação aos seus próprios continentes – e nenhum deles trabalha na Cúria Romana, ao contrário dos exemplos anteriores.

Francisco com o cardeal Rocha e os padres Costa e Sala, relator-geral e secretários especiais do sínodo. Francisco com o cardeal Rocha e os padres Costa e Sala, relator-geral e secretários especiais do sínodo.

Além dos presidentes delegados – chamados assim porque presidem em nome do papa – e do relator-geral, a assembleia geral de outubro conta também com o secretário-geral e dois secretários especiais. Diferentemente de todos os outros, a secretaria-geral do sínodo é um cargo fixo e é ocupada desde 2013 pelo cardeal italiano Lorenzo Baldisseri, que foi núncio apostólico no Brasil entre 2002 e 2012. Já os secretários especiais deste sínodo serão os padres Giacomo Costa, um jesuíta, e Rossano Sala, um salesiano, ambos italianos. Eles foram nomeados pelo papa para a função em novembro de 2017, junto com Dom Sérgio.

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