O arcebispo de Florianópolis, dom Wilson Tadeu Jönck, autorizou a abertura do processo de beatificação do Padre Léo, reconhecido pregador e fundador da Comunidade Bethânia, que acolhe pessoas marginalizadas, dependentes químicos e prostituídos.
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Léo Tarcísio Gonçalves Pereira nasceu em 1961, em Delfim Moreira (MG), e morreu em 2007, em São Paulo, vítima de infecção generalizada por causa de um câncer no sistema linfático. Ele foi ordenado padre em 1990, na Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus, conhecidos como dehonianos – a mesma congregação de que fazem parte dom Wilson e algumas figuras conhecidas da Igreja do Brasil, como os padres Zezinho e Joãozinho e o arcebispo de Salvador, dom Murilo Krieger.
O processo será aberto pela Arquidiocese de Florianópolis porque foi em cidades pertencentes ao território da arquidiocese que o Padre Léo desenvolveu o seu ministério, tanto em Brusque, onde dirigiu um colégio, quanto em São João Batista, onde fundou em 1995 a Comunidade Bethânia. Desde 2015, os restos mortais do presbítero estão na capela da casa-mãe da comunidade, no município catarinense.
Quais são os próximos passos?
Logo será definido o postulador da causa, uma espécie de advogado que representará a arquidiocese diante da Congregação para as Causas dos Santos, no Vaticano. O Vaticano deve então dar o nihil obstat (“nada impede”) à causa, certificando que não há nada em seus arquivos que possa suspender a princípio o processo. Instaura-se então um inquérito diocesano a respeito da vida do candidato.
Quando isso acontecer, o Padre Léo já poderá ser chamado de Servo de Deus. Há vários brasileiros que estão nessa fase do processo, como o médico e seminarista Guido Schäffer (1974-2009), o bispo dom Hélder Câmara (1909-1999) e o padre Donizetti Tavares de Lima (1882-1961).
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A causa do Padre Léo entra na categoria de heroicidade das virtudes. Por isso, para que ele seja beatificado, será necessário que três grupos de peritos da Congregação para a Causa dos Santos – historiadores, teólogos e bispos – sejam unânimes em emitir um parecer favorável à positio, um texto que inclui uma biografia crítica do servo de Deus e os testemunhos dados no inquérito diocesano.
Com essa aprovação, o Padre Léo receberá o título de venerável, como são hoje as brasileiras Antonieta Farani (1906-1963), Serafina Cinque (1913-1988) e Maria Teresa de Jesus Eucarístico (1901-1972).
Em seguida, será necessária a aprovação de um milagre ocorrido pela intercessão do Padre Léo. Nesses quase 11 anos desde a sua morte, a Comunidade Bethânia já recebeu diversos relatos de possíveis milagres atribuídos à sua intercessão. O postulador selecionará algum que tenha mais chances de ser autêntico e pedirá ao bispo do local onde ele ocorreu que solicite à Congregação para as Causas dos Santos a abertura de um inquérito diocesano.
No Vaticano, um corpo de médicos e cientistas julgará se se trata de algo extraordinário ou se o presumível milagre é explicável cientificamente. Se a consultoria científica der parecer favorável ao milagre, a beatificação pode ser agendada e Padre Léo poderá ser venerado ao lado de outros brasileiros como Dulce Lopes Pontes (1914-1992), Albertina Berkenbrock (1919-1931) e Francisco de Paula Victor (1827-1905).
Quanto tempo isso vai levar?
Será necessário comprovar mais um milagre para que o Padre Léo possa ser então canonizado. Quanto tempo isso vai durar? Depende muito. Até agora, o santo brasileiro que viveu mais recentemente é Santa Paulina, que morreu em 1942 e foi canonizada apenas sessenta anos depois. Já entre os beatos, temos Lindalva Justo de Oliveira, que morreu em 1993 e foi beatificada em 2007.
Na Igreja universal, existem processos que transcorreram mais rapidamente, como o de Santa Maria Puríssima da Cruz, que morreu em 1998 e foi canonizada em 2015, e o de Santa Teresa de Calcutá, que morreu em 1997 e foi canonizada em 2016 – sem contar o de São João Paulo II, morto em 2005 e canonizado em 2014.
É bom lembrar, porém, que tanto no caso do papa polonês quanto no da religiosa albanesa abriu-se uma exceção: normalmente, espera-se cinco anos a partir da morte do fiel para dar início ao processo, mas João Paulo II dispensou a causa de Madre Teresa dessa exigência e Bento XVI fez o mesmo com João Paulo II. O papa Francisco também fez isso com o padre Jacques Hamel, martirizado em 2016 na França.
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