Stanley Rother, padre norte-americano que será beatificado em setembro.| Foto:

O papa Francisco emitiu na terça-feira (11/09) uma carta apostólica que estabelece um novo caminho para os processos de beatificação: a oferta da vida, para os casos de fiéis que ofereceram livre e voluntariamente a própria vida por caridade para com o próximo, aceitando heroicamente uma morte iminente e certa.

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Trata-se de uma via que valoriza de modo apropriado diversos casos ocorridos no último século e que a Igreja tinha dificuldade de encaixar no sentido clássico de martírio. É, além disso, uma decisão de grande porte – a última vez em que um papa estabeleceu uma nova via para esses processos foi quando Urbano VIII, no século XVII, instituiu a beatificação equipolente, adicionando um terceiro caminho, além do martírio e da heroicidade das virtudes.

Sem pretensões de antecipar o juízo da Igreja – até porque muito provavelmente a provisão do papa não terá nenhum efeito retroativo, visto que se refere à condução dos processos de beatificação –, aqui vai uma seleção de alguns santos e beatos do século XX cujos traços remetem às características da oferta da vida.

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Vale lembrar ainda que a carta publicada pelo papa se intitula Maiorem Hac Dilectionem, expressão tomada de Jo 15, 13: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos”.

São Maximiliano Maria Kolbe (1894-1941)

Devido à dificuldade em catalogar o seu caso como um martírio clássico, seu processo de beatificação teve início pela via da heroicidade das virtudes. Ele foi beatificado em 1971 pelo Beato Paulo VI. Depois da eleição de seu compatriota São João Paulo II, seu processo foi alterado para a via do martírio, culminando com sua canonização em 1982. Ambos os papas o chamaram “mártir da caridade”.

Santa Gianna Beretta Molla (1922-1962)

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Ela deixou claro aos médicos que a vida de seu bebê era mais importante do que a dela e optou pela cirurgia de retirada do fibroma. A cirurgia teve sucesso, mas mesmo assim o nascimento da filha, sete meses depois, não foi fácil. De novo, Gianna suplicou aos médicos: “Se tiverem que decidir entre mim e o bebê, nenhuma hesitação: exijo que escolham a criança”. Gianna Emanuela nasceu saudável, mas uma semana depois a mãe morreu, em meio a dores excruciantes. O Beato Paulo VI chamou o seu gesto de “meditada imolação”.

Beato Oscar Romero (1917-1980)

Longe da caricatura ideologizada que se quis colar à sua imagem, Romero era um bispo de traços conservadores que, em um espaço de poucos anos, tomou consciência pouco a pouco que denunciar as injustiças perpetradas pelo Estado contra o povo era uma exigência de sua fé e não uma mera opção política – e de tal maneira estava convencido disso que, mesmo sabendo que estava marcado para morrer, não se deteve.

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Beata Lindalva Justo de Oliveira (1953-1993)

As colegas sugeriram que Lindalva se afastasse do asilo e pedisse para ser transferida a outra obra da companhia. A consagrada, porém, repleta de caridade pelos 40 idosos de que cuidava, respondia: “Prefiro que meu sangue seja derramado a afastar-me daqui”. Até que, na manhã da Sexta-Feira Santa de 1993, o homem, que tinha comprado uma peixeira na segunda-feira anterior, esfaqueou Lindalva até a morte.

Beato Stanley Francis Rother (1935-1981)

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Rother ficou sabendo que o seu nome estava assinalado para morrer e alguns paroquianos recomendaram que ele voltasse aos Estados Unidos. Ele chegou a visitar sua cidade, Oklahoma, em janeiro de 1981, mas pediu ao seu bispo para retornar à Guatemala. Seu irmão o questionou: “Por que você quer voltar? Eles estão te esperando e vão te matar”. Rother respondeu: “Bem, um pastor não pode fugir do seu rebanho”. Ele voltou em abril, a tempo de celebrar a Páscoa, e foi assassinado em julho.

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Além desses santos e beatos, vale citar dois casos de pessoas que ainda não foram beatificadas, mas cujo processo está aberto e claramente se encaixa na via da oferta da vida. Um deles é Salvo d’Acquisto (1920-1943), um jovem policial italiano que, para livrar da execução 22 pessoas acusadas de uma explosão que matou dois soldados nazistas, acusou a si mesmo de ter detonado os explosivos – o que não era verdade, pois a explosão tinha sido acidental.

Outro caso é o de Christian de Chergé (1937-1996) e seus companheiros, que formavam uma comunidade de monges trapistas em Tibhirine, na Argélia. Diante dos constantes ataques de fundamentalistas islâmicos na região, a comunidade precisou enfrentar o duro discernimento de decidir se permanecia ali ou se retornava à França. Eles decidiram permanecer e, em 1996, vinte homens armados invadiram a abadia e sequestraram sete monges, incluindo Charles, mantendo-os reféns e decapitando-os dois meses depois.

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E confira essa lista com fotos dos santos e beatos que viveram nos últimos 50 anos.

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