Os irmãos Jacinta e Francisco Marto, duas das três crianças a quem Nossa Senhora se dirigiu em sua aparição em Fátima em 1917, serão canonizados pelo papa Francisco. O pontífice assinou hoje (23/03) um decreto que reconhece um milagre atribuído à intercessão das duas crianças portuguesas, beatificadas por São João Paulo II em 2000.
Lúcia dos Santos, a terceira criança e prima dos outros dois, morreu já idosa, ao contrário de Jacinta e Francisco, que morreram com nove e dez anos de idade respectivamente. Lúcia se tornou religiosa carmelita e morreu em 2005, aos 97 anos. Seu processo de beatificação se iniciou em 2008.
Não foram dados maiores detalhes sobre o milagre que foi reconhecido, mas sabe-se que aconteceu no Brasil e com uma criança. Com a canonização, Jacinta e Francisco se tornarão os santos mais jovens não mártires da história da Igreja. Especula-se que a cerimônia aconteça na visita do papa a Fátima no próximo mês de maio, para comemorar os cem anos da aparição.
Novos santos brasileiros
O papa autorizou ainda, sem necessidade do reconhecimento de um milagre, a canonização dos Beatos André de Soveral, Ambrósio Francisco Ferro, Mateus Moreira e outros 27 companheiros, martirizados em 1645 no Rio Grande do Norte, pelos invasores holandeses. O grupo é conhecido como Mártires de Cunhaú e Uruaçu e foi beatificado em 2000 por São João Paulo II.
O padre André de Soveral nasceu em São Vicente (SP) em 1572. Ele foi assassinado em Cunhaú junto com os fiéis durante uma missa em 16 de julho de 1645, em uma chacina liderada por Jacob Rabbi, um judeu-alemão a serviço do governo holandês. Menos de três meses depois, em 3 de outubro, Rabbi comandou em Uruaçu a matança de outro grupo de católicos, que se recusaram a se tornar calvinistas, como queria a Holanda. Em honra dos mártires do Rio Grande do Norte, o dia 3 de outubro é feriado no estado desde 2006.
No segundo grupo estavam o padre Ambrósio Francisco Ferro – o único português entre os 30 mártires – e diversos leigos, como Mateus Moreira, que foi nomeado pela CNBB em 2005 patrono dos ministros extraordinários da comunhão eucarística, por ter gritado “Louvado seja o Santíssimo Sacramento!” quando teve o seu coração arrancado pelas costas.
O relato do martírio descreve um cenário sangrento e cruel. Duas meninas, crianças, foram partidas ao meio. Manuel Rodrigues de Moura teve os pés e as mãos cortados e morreu só depois de três dias. Antônio Barracho foi amarrado a uma árvore e teve a língua cortada. No lugar dela, os holandeses lhe puseram na boca o seu pênis cortado. Morreu como Moreira, com o coração arrancado, depois de ter sido açoitado e queimado com ferro em brasa.
Outras canonizações e beatificações
O papa também autorizou a canonização de três mexicanos martirizados em 1529, Cristóbal, Antonio e Juan, conhecidos como as crianças mártires de Tlaxcala. Astecas, foram mortos por se converterem ao cristianismo – Cristóbal, aliás, foi assassinado pelo próprio pai. Foram beatificados em 1990 por São João Paulo II.
Com os decretos publicados hoje, espera-se ainda a canonização do frade capuchinho italiano Ângelo de Acri, falecido em 1739, bem como a beatificação da religiosa indiana Maria Vattalil, martirizada em 1995, e de um grupo de 39 mártires da Guerra Civil Espanhola, mortos em 1936.
Foram reconhecidas ainda as virtudes heroicas do também capuchinho Daniel de Samarate, morto em 1924, da religiosa Macrina Raparelli, morta em 1970, e da leiga Daniela Zanetta, morta em 1986. Para os três, falta agora a confirmação de um milagre ocorrido por sua intercessão.