Uma teóloga católica está disputando uma vaga na Assembleia Legislativa do estado de Rhode Island, no nordeste dos Estados Unidos, nas eleições de novembro. Holly Tailor Coolman, professora no Providence College – a única universidade dominicana do país –, é especialista em cristologia, eclesiologia e relações judaico-cristãs e acredita que a sua vocação à teologia tem tudo a ver com a vocação à vida política.
“Eu noto que isso pode parecer estranho à primeira vista, sobretudo se você pensa a partir dos estereótipos do professor universitário distraído e do político espertalhão. Para mim, porém, uma coisa levou naturalmente à outra”, conta Coolman a Charles Camosy, do Crux.
“Nos meus trinta anos em sala de aula, precisei aprimorar habilidades comunicativas, como ouvir com atenção, perceber com precisão onde se delineiam as diferenças, expressar a minha opinião com clareza e buscar maneiras de avançar. Quando a política está em seu melhor, esses hábitos estão no coração do trabalho”, diz a teóloga.
Ela acredita que um dos primeiros objetos de pesquisa em sua carreira já tenha sido um fator que a encaminhou para a vocação política: a reflexão teológica sobre a lei segundo Santo Tomás de Aquino. “Tomás sabe que a lei humana pode errar, mas tem uma visão bastante elevada dela. Ele a vê não como um mal necessário, mas como um bem positivo, uma forma de as pessoas se ligarem umas às outras e ao bem. Fazer a lei, para ele, é uma missão nobre”, explica.
Fé e política
“O pensamento social católico influenciou profundamente a minha visão do ser humano e da sociedade”, afirma Coolman. “Sobretudo, parto da convicção de que os seres humanos têm uma dignidade profunda e que cada indivíduo deve ser tratado de um modo que reconheça essa dignidade. Qualquer sistema que debilite essa dignidade humana fundamental precisa ser contestado”.
Atrelada à dignidade humana, está a convicção profundamente cristã de que a nossa existência é relacional: estamos para todos os efeitos ligados uns aos outros. “A noção de bem comum significa que não somos apenas agentes independentes, direcionando, negociando ou manipulando-nos uns aos outros, mas que há um bem que todos compartilhamos. Nesse cenário mais amplo, não posso verdadeiramente buscar meu próprio bem sem me preocupar com você e vice-versa”, diz a teóloga.
“Tudo isso tem consequências para a forma como me relaciono com as outras pessoas, incluindo parlamentares, oponentes, etc. A política, como todo tipo de sistema, facilmente pode se degenerar em um simples uso das outras pessoas para diversos tipos de ganho. Estou comprometida a me lembrar continuamente de que, em qualquer encontro com qualquer pessoa, estou lidando com um ser humano que é valioso em seu próprio direito”, sustenta Coolman.
Para ela, “perdemos tudo que poderíamos chamar de ‘discurso público’”. “Um cenário polarizado faz as pessoas viverem em câmaras de eco, onde os oponentes políticos são caricaturizados e os argumentos são reduzidos a manchetes barulhentas”, avalia a teóloga. “Podemos fazer melhor do que isso”.
É dentro dessa visão ampla, clara e consistente de dignidade humana que se sustenta a sua posição de defesa da dignidade do nascituro. Coolman, que é filiada ao Partido Democrata, acredita que a minoria pró-vida dentro do partido precisa ter vez. “A preocupação pelos que são mais vulneráveis e que têm menos voz precisa incluir o nascituro”, diz ela. Atualmente, cerca de um terço dos filiados ao partido se consideram pró-vida.
“Tento ser clara sobre o que um posicionamento pró-vida significa para mim. Isso está enraizado em um compromisso fundamental com a dignidade humana. Está enraizado em minha convicção de que devemos lutar contra a tentação de exercitar a nossa liberdade às custas dos outros. E está indispensavelmente ligado a preocupações mais amplas: tudo, desde a reforma prisional até o acesso à habitação e a proteção das fontes de água, tem a ver com respeitar a vida”, diz.
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