O cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo há 11 anos, é um daqueles casos curiosos de figuras consideradas conservadoras demais pelos progressistas e progressistas demais pelos conservadores. Isso não significa que todas as pessoas nessa posição tenham a mesma opinião sobre tudo ou partam dos mesmos pressupostos, mas certamente nos ajuda a lembrar que a fé cristã não se alinha completamente com nenhuma ideologia e que ela é frequentemente considerada, por lados opostos, “simples demais ou colorida demais”, como apontava Chesterton.
Dois anos atrás, por exemplo, dom Odilo foi agredido em plena Quinta-Feira Santa ao fim de uma missa por uma mulher que o derrubou no chão, gritando: “Você e a CNBB são comunistas infiltrados!” A agressão ecoou ataques como os de Olavo de Carvalho, que considera o cardeal “excomungado” por “apoiar o comunismo”. O cardeal, porém, está longe de ser um ícone da esquerda: para dar apenas um exemplo, em abril ele foi criticado por publicar uma nota lamentando a “instrumentalização política do ato religioso” realizado no dia da prisão de Lula em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Eu encontrei dom Odilo há poucos dias em Trindade (GO), onde cobri a Festa do Divino Pai Eterno deste ano, a convite da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe). Ele presidiu a celebração principal, na manhã de domingo (01/07). Diante do histórico do cardeal, em nossa breve conversa perguntei a ele a sua opinião sobre os ataques que a CNBB tem recebido da direita e que tiveram o seu pico no primeiro semestre deste ano.
“Quando ouvimos um discurso, procuramos saber quem é que está fazendo esse discurso. Esse é um dos fatores que dão o devido peso às críticas que são feitas”, disse dom Odilo. Para quem está calejado pelos ataques levianos de Olavo de Carvalho, saber que as críticas vêm em boa parte de seus seguidores certamente as coloca em perspectiva.
“Tenho impressão que está se espalhando um preconceito contra a CNBB que é injustificado. Faz-se uma interpretação preconceituosa, que inclui até mesmo inverdades a respeito da CNBB e de suas posturas. Por exemplo, chamam os bispos e a CNBB de comunistas. Isso é absolutamente inverídico”, comentou o cardeal. “E quando essas inverdades se espalham, muitas pessoas ficam assustadas, pensando: como é que pode haver bispos comunistas? Eu também ficaria perplexo se houvesse, mas posso dizer com certeza que não há nenhum bispo comunista na CNBB”.
Comentei com ele sobre o trecho da exortação apostólica Gaudete et Exsultate em que o Papa Francisco diz que “é nocivo e ideológico o erro das pessoas que vivem suspeitando do compromisso social dos outros, considerando-o algo de superficial, mundano, secularizado, imanentista, comunista, populista” (n. 101). “Quem pensa assim, ao ler o Evangelho, diria que Jesus também é comunista e que recomendou que todos fossem comunistas”, ironizou dom Odilo. “Jesus mandou amar-nos uns aos outros e esse amor não é só de palavras e nem apenas intelectual – é amor concreto, que também dá atenção concreta aos pobres, necessitados, doentes, injustiçados e perseguidos. Mas isso não é comunismo, isso é Evangelho”.
Dom Odilo tem 69 anos, nasceu em Cerro Largo (RS), fez a sua formação para o presbiterado em Curitiba e foi ordenado na Diocese de Toledo, no Paraná. Ele foi bispo auxiliar de São Paulo entre 2002 e 2007, quando assumiu a arquidiocese. Foi também secretário-geral da CNBB entre 2003 e 2007. Bento XVI o criou cardeal em 2007.
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