Vicenzo Paglia, o polêmico novo grão-chanceler da Pontifícia Academia para a Vida.
Vicenzo Paglia, o polêmico novo grão-chanceler da Pontifícia Academia para a Vida.| Foto:

A Pontifícia Academia para a Vida não será mais aquilo que João Paulo II queria que ela fosse quando a criou. A instituição já foi um dos principais suportes acadêmicos do movimento pró-vida em todo o mundo, mas, com o desmanche da antiga formação e atuais nomeações, publicadas nesta quarta-feira (14/06), o papa Francisco mostra que espera um perfil de “mais debate”, menos confessional e menos engajada nas ações de defesa da vida desde a concepção.

O blog voltará ao tema, mas, por hora, fiquem com uma tradução livre dessa interessante análise do vaticanista italiano Sandro Magister, publicada em seu blog no jornal italiano La Reppublica.

Àqueles que estão caindo de pára-quedas no assunto, recomendo que também leiam um pouco sobre a sexualmente controversa biografia de Vicenzo Paglia, o homem escolhido por Francisco para estar à frente dessa nova versão da Academia.

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Nome por nome, a metamorfose da Pontifícia Academia para a Vida

Finalmente, depois de muita espera, nesta quarta-feira, 13 de junho, foi divulgada a lista dos novos membros da Pontifícia Academia para a Vida, todos nomeados pelo papa. Falta ainda a lista do conselho diretivo, que também é de nomeação pontifícia, assim como também a dos membros “correspondentes”, cuja designação compete ao presidente da Academia, monsenhor Vicenzo Paglia. Entretanto, o pior passou.

Em comparação com os 132 membros anteriores da Academia, todos despedidos em 31 de dezembro de 2016, os atuais membros são 45 mais 5 “ad honorem”. Os confirmados são 33, os novos 17 e seus nomes, com os respectivos títulos, estão na lista difundida pela Sala de Imprensa da Santa Sé.

Nomes

Os eliminados são, então, vários. Entre eles se destacam alguns acadêmicos de grande importância, mas que se distinguiram ao criticar publicamente os novos paradigmas morais e práticos que chegaram ao auge com o pontificado de Francisco.

Entre eles estão o filósofo alemão Robert Spaemann, amigos de Joseph Ratzinger desde muito tempo; o filósofo australiano John Finnis, autor com Germain Grisez de uma “carta aberta” ao papa Francisco e de forte crítica à Amoris Laetitia; o inglês Luke Gormally e os austríacos Josef Maria Seifert e Wolfgang Waldstein.

Não foram confirmados nem sequer ativistas pró-vida de relevância internacional, como a guatemalteca María Mercedes Arzú de Wilson e a venezoelana Christine De Marcellus Vollmer, que estava entre as primeiras chamas por João Paulo II para formar a Academia, agora desguarnecida nesta frente.

Desapareceram também três representantes do Leste Europeu que cresceram na escola de Karol Wojtyla e que permaneceram fiéis a ele, como o polonês Andrzej Szostek, o ucraniano Mieczyslaw Grzegocki e o checo Jaroslav Sturma, psicólogo e psicoterapeuta ferozmente contrário à ideologia de gênero.

Também se colocou uma cruz sobre Etienne Kaboré, de Burkhina Faso, perfeitamente alinhada com as posições da igreja africana sobre matrimônio, família e sexualidade, vistas em ação durante os dois últimos sínodos.

Da Europa, faltarão os aportes do francês Bernard Kerdelhue, discípulo e grande admirador do beatificado Jérôme Lejeune, primeiro presidente da Academia, e dos belgas Michael Schooyans e Philippe Schepens, fervorosos defensores da ética médica inspirada em Hipócrates. Entre os acadêmicos latino-americanos não estará mais o chileno Patricio Ventura-Junca, muito próximo de outro ex-presidente da Academia, seu conterrâneo Juan de Dios Vial Correa

Dos Estados Unidos não estará mais a contribuição de Thomas William Hilgers, ginecologista muito comprometido com os métodos naturais de regulação dos nascimentos. Mais do que fiel à Donum Vitae e à Humanae Vitae e firme opositor à anticoncepção e à fecundação “in vitro”, é provável que justamente por isso tenha sido excluído, tendo em vista uma revisão nas posições da Igreja sobre esses temas, sobre os quais se vocifera com crescente insistência no Vaticano.

Mas também os confirmados e nomes novos são indicativos de uma mudança de direção.

Entre os confirmados, os cinco novos membros “ad honorem” representam um obrigatório tributo ao passado, nas pessoas dos cardeais Carlo Caffarra e Elio Sgreccia, além da senhora Birthe Lejeune, vice-presidente da Fundação que leva o nome de Jérôme Lejeune, seu esposo e primeiro presidente da Academia, em 1994. Também entram nessa lista outros dois ex-presidentes: Juan de Dios Vial Correa, chileno, e Ignacio Carrasco de Paula, espanhol.

Obrigatórias também foram as confirmações dos cardeais Willem Jacobus Eijk e do arcebispo de Sydney Anthony Colin Fisher, ambos “conservadores”.

Contudo, quando se analisam os outros nomes, pode-se perceber que os ex-membros “correspondentes” agora promovidos a membros “ordinários” estão entre os mais dóceis às aberturas do papa Francisco e ao novo curso manejado pelo monsenhor Paglia. Pode-se citar entre estes o bispo canadense Noël Simard, o bispo argentino Alberto Germán Bochatey, o mexicano Rodrigo Guerra López e a católica japonesa Etsuko Akiba.

Além desses foram confirmados personagens de peso, também financeiro, apreciados por seus dotes insubstituíveis e adaptabilidade, como o chefe supremo dos Cavaleiros de Colombo, o norte-americano Carl A. Anderson, que há muitos anos é um generoso mecenas tanto da Academia como do Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos sobre Matrimônio e Família; e o francês Jean-Marie Le Mené presidente da Fundação Jérôme Lejeune e financiador de seu processo de beatificação.

Entre os 17 novos nomeados, três não são cristãos: o japonês e prêmio Nobel de Medicina Shinya Yamanaka, o muçulmano tunisiano Mohamed Haddad e o judeu israelita Avraham Steinberg, diretor da Unidade de Ética da Medicina no Shaare Zedek Medical Center, de Jerusalén, e diretor do Comitê Editorial da Enciclopeia Talmúdica. Monseñor Paglia preferiu esse último ao invés de outro judeu, Riccardo Di Segni, rabino chefe de Roma e também médico e especialista em bioética, vice-presidente do Comitê Nacional Italiano de Bioética, mas com posições mais conservadoras e às vezes explicitamente críticas ao papa Francisco.

Outra significativa “new entry” é a de Angelo Vescovi, personagem controverso em ambientes científicos mas muito vinculado a Paglia desde quando este era bispo de Terni, onde o ajudou a criar um centro de estudos sobre as células-tronco e propiciou logo sua nomeação a diretor científico da Casa Alívio do Sofrimento de San Giovanni Rotondo, fundada pelo padre Pio de Pietralcina.

Entretanto, talvez o novo nome mais emblemático do novo rumo da Academia é o do teólogo moralista Maurizio Chiodi, docente na Faculdade de Teologia de Milão e da Itália Setentrional. Chiodi se expressa há tempos em termos críticos sobre pontos importantes da Humanae Vitar, da Donum Vitae e da Evangelium Vitae. Está também em evidente descontinuidade com a encíclica Veritatis Splendor, de João Paulo II, mas, ao contrário, parece estar em sintonia com as aberturas atuais a um novo “discernimento” sobre questões como anticoncepção, fecundação in vitro, orientações sexuais, “gênero”, eutanásia passiva e suicídio assistido.

Com mais prudência, também outras colunas da Academia que no passado sustentaram posições antiéticas se mostram hoje dispostas a alguma adaptação. É o caso de Francesco D’Agostino, filósofo do Direito e presidente honorário do Comitê Nacional italiano de Bioética; de Adriano Pessina, diretor do Centro de Bioética da Universidade Católica de Milão; de John Haas, presidente do Centro Nacional Católico de Bioética dos Estados Unidos e amigo do cardeal Kevin J. Farrell, prefeito do Dicastério para Leigos, Família e Vida; de Ángel Rodríguez Luño, professor de teologia moral na Pontifícia Universidade da Santa Cruz e consultor da Congregação para a Doutrina da Fé, muito ouvido pelo cardeal Gerhard L. Müller.

Com uma Pontifícia Academia para a Vida montada deste modo, a oposição que se inspira em Lejeune, Sgreccia, Caffarra, e em São João Paulo II e em Bento XVI não terá vida fácil.

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Além das informações de Sandro Magister, o site britânico Catholic Herald também informou que outro dos novos membros da Academia, o inglês Nigel Biggar, anglicano, docente em Oxford, é um aberto partidário do aborto até as 18 semanas de gestação.

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