Por Robert Rautmann, teólogo.
“O papa é pop” cantava Humberto Gessinger, vocalista da banda Engenheiros do Hawaii, no início da década de 90. Os tempos eram outros e o papa também! Mas Francisco tem feito jus à letra da música reunindo multidões por onde passa, como fez em sua recente viagem à Cuba e aos Estados Unidos – 1,5 milhão na missa de encerramento do encontro com as famílias, além de centenas de milhares nas ruas. Foi aplaudido de pé pelo Congresso norte-americano, aliás foi o primeiro pontífice a discursar naquele parlamento e o quarto a falar na Assembleia das Nações Unidas. Toda essa exposição teve como objetivo principal a sua participação no VIII Encontro Mundial das Famílias .
Mas o que pensa o papa Francisco a respeito da família? Quem costuma acompanhar seus pronunciamentos sabe que ele tem uma forma simples e direta de falar. Num discurso improvisado, já no Encontro das Famílias, ele disse: “a família, me perdoem a palavra, é uma fábrica de esperança, uma fábrica de vida e ressurreição”. Já na sua carta de dezembro último, em preparação ao encontro, o papa pedia que não qualificássemos “uma família com conceitos ideológicos, nem falar de família conservadora ou progressista. A família é família!”
Se muitas vezes vemos as discussões a respeito da família descambarem para uma guerra de definições e tomadas de posição, a atitude de Francisco é bem outra – sempre de proposta, de apoio. “Não vim para vos julgar ou dar lições”, disse no encontro com os bispos dos EUA, mas sem esquecer sua preocupação, pois é a família “que está ameaçada, talvez como nunca antes, de dentro e de fora”, conforme afirmou no discurso que fez aos congressistas dos EUA.
E quais são essas dificuldades que o papa enxerga?
De uma forma bem acessível o papa diz: “Na família há dificuldades, nas famílias se discute, na família às vezes voam os pratos. Nas famílias os filhos trazem dores de cabeça”. Esses problemas, que todos os que vivem em uma família bem conhecem, são superados pelo amor. É o amor, e não o ódio ou a divisão, que pode superar as dificuldades, diz ele.
A mentalidade individualista, consumista e hedonista são os principais desafios externos para a família, segundo o papa. Elas estão entre as temáticas mais urgentes que envolvem a família nas sociedades plurais que vivemos. A Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, que aconteceu em Roma durante outubro do ano passado, discutiu esses temas, que serão retomados na Assembleia Ordinária a ser realizada no próximo mês de outubro.
E antes de voltar ao Vaticano ele deixou o dever de casa para todos. Aos bispos, que apoiem e dialoguem com as famílias. Aos congressistas americanos, relembrou o valor das famílias na construção daquela nação. Na ONU, salientou o direito que as famílias têm de educar seus filhos e de serem amparadas nessa tarefa pelas igrejas, pelas associações sociais e pelos governantes. Estes últimos têm o dever ainda de dispor de meios materiais, e espirituais, para que as famílias tenham o mínimo necessário para viverem com dignidade e serem promotoras do desenvolvimento, como células primárias da sociedade.
“Não há famílias perfeitas” e são os problemas e desafios que surgem nas famílias a melhor oportunidade de nos aproximarmos dos outros e de Deus, disse Francisco na vigília de oração, sábado à noite, no EMF. O papa lembrou ainda aos bispos que “são as famílias que transformam o mundo e a história”.
Ainda que Francisco aparentemente seja “pop”, os seus discursos e suas atitudes ressaltam os valores e as virtudes da família que tem o amor em seu centro e que é o “rosto sorridente da Igreja”.