Por Khae Lhucas Ferreira Pereira
Naqueles anos iluminados da Revolução Francesa – especialmente lembrada na França a cada dia 14 de julho – quando a razão laica imperava como deusa soberana, um médico genial e comiserado sugeriu um instrumento inédito para a execução dos adversários do regime revolucionário: a guilhotina. Bastava uma pesada lâmina cair sobre a nuca do condenado e o serviço estava feito, sem dor, especialmente para o carrasco, que antes nem sempre se lembrava de afiar o machado e podia ser acometido pelas torturas da própria clemência.
Além desse aspecto prático, embora menos entusiástico para os espectadores mais sádicos, a guilhotina cumpria um papel fortemente simbólico: era a mordaça definitiva para os rivais. Que taça esplendorosa para um fanático do laicismo erguer a cabeça degolada de um padre católico, ou então a de Luís XVI na mão de um líder republicano!
Calar um adversário pela violência é sempre um ato de covardia, afirmação de derrota, mesmo quando se pensa vitorioso. Uma revolução tirânica, como a de 1789, incapaz de combater os padres nos púlpitos ou nas cátedras universitárias, precisou levá-los para o cadafalso, para então os desbaratar, combater pelo trucidamento o que não era possível pelo discurso nas categorias da racionalidade, que se pensava cultuar.
Especialmente aos fanáticos de ideologias modernas, importa muito amordaçar o oponente. Discussões acadêmicas, tendo a lógica como moderadora, é coisa da Idade Média. Hoje, até mesmo na universidade, ganha quem cala o outro por coerção, não quem argumenta bem. Triunfa o pombo xadrezista, não quem melhor articulou as peças no tabuleiro. Grita-se, agride-se. A verdade não é o prêmio e nem a procura de quem se dispõe a um debate. Importa esmurrar o adversário quando o argumento deste me esmaga a consciência.
Não por uma dose de piedade, como a de Joseph-Ignace Guillotin, mas por exultação com o terror, padres tornaram a ser degolados. Insanos fanaticamente impõem a mordaça definitiva àqueles homens que pelo sacerdócio católico expressam a genuína identidade da cultura a qual nós pertencemos.
Na verdade, não se odeia apenas o sacerdócio, mas se odeia os princípios cristãos que determinaram a tradição ocidental, nossa jurisdição e filosofia. Desmemoriados, nós nos esquecemos de nossa história, de que foi o cristianismo que construiu a civilização do Ocidente, e que, mais do que uma proposta de fé, é ele o fundamento e guardião de nossa identidade.
É minando os alicerces que se destrói uma fortificação. Por isso que iluministas, comunistas e jihadistas começaram o nosso massacre pelos padres. Mas quem está realmente perdendo a cabeça? Não somos nós que esquecemos nossa identidade cultural enquanto os padres a conservaram e transmitiram?
Khae Lhucas Ferreira Pereira é seminarista da arquidiocese de Curitiba.
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