A Catedral de São Pedro, em Bautzen. No centro, o altar luterano. Ao fundo, o católico.
A Catedral de São Pedro, em Bautzen. No centro, o altar luterano. Ao fundo, o católico.| Foto:

Não é tão raro nos depararmos em aeroportos, shoppings ou hospitais com “espaços ecumênicos” ou “capelas ecumênicas”. Geralmente, trata-se de um espaço mais reservado, onde se guarda o silêncio e, portanto, mais propício à oração. Mas você já imaginou uma igreja que funcione realmente como local de reunião tanto de uma comunidade católica quanto de uma evangélica, isto é, um mesmo edifício compartilhado por duas confissões cristãs diferentes? No Brasil isso é incomum, mas a Alemanha e outros países da Europa têm templos assim desde o século XVI.

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Chamadas de simultaneum, elas geralmente são compartilhadas por uma comunidade católica e outra luterana ou evangélica unida (confissão resultante da união entre duas ou mais denominações protestantes, geralmente a luterana e a calvinista). Na Alemanha, há 64 templos compartilhados. Eles também são numerosos na Alsácia, região da França fronteiriça com a Alemanha, e na Suíça.

Localizada em Bautzen, a Catedral de São Pedro (Katedrala swj. Pětra) foi a primeira igreja compartilhada na Alemanha. Isso aconteceu já em 1524 – vale lembrar que Lutero deu início à Reforma em 1517 e viveu até 1546. Houve algumas disputas no início, mas já em 1543 um acordo estipulou as condições precisas do compartilhamento do templo. O altar luterano (o atual é de 1640) fica próximo do centro da igreja, enquanto o altar católico (de 1713) fica próximo do fundo.

Como a Catedral de São Pedro, numerosas outras igrejas eram inicialmente católicas para depois serem adaptadas para acolher também uma comunidade evangélica – ou às vezes sequer receberam adaptações, sendo simplesmente acordado o horário de uso de cada confissão. O contrário também se deu. Mais recentemente, porém, aconteceu também que comunidades católicas e evangélicas se unissem para, desde o início, construir uma igreja comum.

Maria-Magdalena Kirche. À esquerda, o espaço luterano; à direita, o católico. Fotos: Commons Maria-Magdalena Kirche. À esquerda, o espaço luterano; à direita, o católico. Fotos: Commons

É o caso da Igreja de Maria Madalena (Maria-Magdalena Kirche). Localizada na cidade alemã de Freiburg im Breisgau, essa igreja dedicada à apóstola dos apóstolos foi inaugurada em 2004 com o objetivo de atender um bairro recém-criado. Inicialmente, o projeto do novo bairro previa uma igreja católica e uma luterana, mas as próprias comunidades desejaram expressar a sua unidade na fé cristã e propuseram a construção de um único edifício. As liturgias acontecem em espaços diferentes do prédio, geralmente no mesmo horário, para que após a celebração católicos e evangélicos possam se confraternizar. Como um belo sinal da unidade da fé cristã, a pia batismal é comum.

Já a Igreja de Emaús (Emmauskirche) foi construída entre 1991 e 1992 como parte de um centro ecumênico na cidade alemã de Bad Griesbach im Rottal, na Bavária. Usada por luteranos e católicos, a igreja tem uma nave comum, em formato semicircular, e um único altar e um ambão. Duas capelas laterais se constituem como espaços específicos de cada confissão: a Capela do Pai Nosso, à esquerda, para os luteranos, e a Capela do Santíssimo Sacramento, à direita, para os católicos.

Emmauskirche. Foto: Commons Emmauskirche. Foto: Commons

Vale lembrar também que, em outro contexto, basílicas como a do Santo Sepulcro e a da Natividade, respectivamente em Jerusalém e em Belém, também são compartilhadas por diferentes confissões – ortodoxos gregos, apostólicos armênios, católicos romanos, ortodoxos coptas, ortodoxos siríacos e ortodoxos etíopes dividem a do Sepulcro, por exemplo. Um outro assunto muito interessante são as comunidades monásticas ecumênicas que surgiram na Europa ao longo do último século. Mas isso fica para outro dia.

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