Por Cibele Scandelari, esposa, mãe de duas meninas e de uma a caminho, professora e orientadora familiar.
Certo dia de manhã, escuto minha filha me chamar, com aquela “delicadeza”: “mamãenhêêê!”. Eu estava no andar de baixo, dou bom dia e peço para ela descer, para que eu pudesse dar-lhe um beijo e o café da manhã. Nada feito. Bom… fui, para dar o chamego da manhã. Cheguei lá, toda carinhosa, mas antes de conseguir dar o beijo, a criatura olha para mim, com a cara amassada de sono, e tem a coragem de dizer: “eu quero o papai, mamãe!”.
Bom, contei esse pequeno “causo” apenas para ilustrar que mãe é um ser importantíssimo, porém, todavia, entretanto… o pai também desempenha importância ímpar na vida de seus filhotes.
Acho este um assunto de grande importância, ainda mais neste momento pelo qual a sociedade vem passando: cada vez mais mulheres são obrigadas (ou escolhem) estar à frente de suas famílias tanto no quesito financeiro, quanto no emocional e físico. Os motivos são variados e o objetivo desta reflexão não é analisar se essas mulheres estão certas ou erradas (nem acho que isso seja possível, uma vez que cada caso é um caso… então, sem generalizações).
Um casal, unido, contribuindo com as especificidades próprias de seus sexos, para a formação dos filhos, vai ao infinito
Vamos pensar aqui que o homem, ao se tornar pai, carrega em si a chance de ser um mundo para outro ser. Carrega autoridade, força, segurança, coragem. Sua presença na vida desse novo ser pode fazer toda a diferença e, para muitos, isso depende da escolha de efetivamente querer desempenhar esse papel e realmente crescer como ser humano.
Podem me dizer que a presença do pai não é assim tão importante. Entendo o ponto de vista. As mulheres são tão fortes, tão batalhadoras, tão ultra em tantas áreas, que realmente compreendo essa forma de pensar. Quantas mulheres estão tendo que levar uma família inteira nos ombros e fazem isso com maestria? Admiro. De verdade. Merecem uma verdadeira salva de palmas. Fazem isso com tanta garra, que seus filhos simplesmente podem chegar a dizer que o pai foi uma figura inexpressiva em suas vidas e que não sentem sua falta. Isso pode ser verdade. O pai realmente foi uma nulidade, logo não existe motivo para sentir sua falta e, para alguns, isso pode levar ao pensamente de que, se um pai não fez diferença, então é possível que a presença de qualquer um possa ser posta na berlinda. Há quem diga: terei meus filhos sozinha. Não tive pai, ele não fez falta e sei que dou conta.
Porém, o fato de alguns homens, tristemente, abdicarem da alegria de educar seus filhos e de fazer parte da vida e do crescimento deles não anula o que suas presenças poderiam ter feito ou o que elas poderiam ter contribuído para o desenvolvimento das crianças, futuros adultos.
Sim. Nós mulheres, poderosas, damos um jeito pra tudo. Mas um casal, unido, contribuindo com as especificidades próprias de seus sexos, para a formação dos filhos, vai ao infinito. Talvez nunca se chegue a saber em que um pai ausente poderia ter contribuído para a vida de um filho.
Influência
Vamos nos aprofundar só um pouco. Segundo artigo de 2010, da Associação Americana de Psicologia, as memórias de uma relação calorosa com o pai durante a infância estão diretamente relacionadas com a capacidade para enfrentar o estresse do dia a dia. Como mostra essa investigação, o pai desempenha um papel fundamental na saúde mental dos seus filhos, e isso é visível na idade adulta. Os homens que relataram ter mantido uma boa relação com o pai durante a infância tendem a ser menos impulsivos na forma como reagem aos eventos estressantes do dia a dia do que aqueles que relataram relações mais pobres.
Acredito que esse estudo pode ser um exemplo de que a influência positiva ou negativa do pai nem sempre é tão óbvia. É claro que nem todos os impulsivos assim o são por causa de seu relacionamento com o pai. Mas é uma possibilidade. O pai pode fazer maravilhas e também pode fazer grandes estragos. Tanto com sua presença quanto com sua ausência. Mas isso também acontece com a figura materna. Dependerá da maneira como cada um entender e se dedicar ao seu papel.
No site Pediatria em Foco, encontrei uma análise interessante sobre o papel do pai na vida de uma criança. O autor faz uma breve análise da importância do pai desde os primeiros meses, mesmo que nesse tempo seja a mãe que ocupe a figura protagonista do ponto de vista do bebê. “A partir do primeiro ano de vida, o pai começa a aparecer mais. Ele representa a responsabilidade. É o contato com a realidade. O pai que ama os filhos não é somente aquele que manda, mas aquele de quem a criança tem orgulho e com quem quer se parecer. Essa admiração é o elemento de masculinidade que o pai transmite. Encontrar-se com o pai significará não somente poder separar-se da mãe, mas também encontrar uma fonte de identificação masculina, imprescindível tanto para a menina como para o varão. Isso porque a condição bissexual da psique humana (o que Jung chamava de animus nas mulheres e anima nos homens) torna necessário o casal “pai” e “mãe” para que se consiga um desenvolvimento normal da personalidade.”
O ideal? O ideal, a meu ver, é um pai consciente de suas possibilidades, de suas limitações, mas que não se esquiva de sua responsabilidade quando acha que pode não dar conta. Enfrenta o “tranco”. Mostra coragem, vai à luta contra suas más inclinações, contra seus defeitos. Escorrega de vez em quando e não tem vergonha de, nessa hora, estender a mão na direção da mulher e pedir-lhe ajuda. Age dessa maneira até sem saber que, assim, mostra uma grandeza imensa diante dos filhos que o observam. Esses pais, que existem sim, também merecem aplausos. Pois vão contra a maré da sociedade light. São ativos, são dotados de uma humanidade linda e, ao meu ver, são muito, mas muito mais homens.