Ter que abrir mão de um sonho é uma das situações mais difíceis que alguém pode viver. A esperança é substituída pelo sentimento de frustração e, nesse cenário, é muito natural que a tristeza também ganhe espaço. Esses sentimentos são familiares, especialmente, para os casais que, por algum motivo, não conseguem ter filhos. Muitos deles carregam o sonho de serem pais desde muito novos e se deparar com essa realidade não é uma dor fácil de ser superada.
Segundo a psicóloga Judith Dipp, quando um casal sonha em ter um filho e acaba descobrindo a esterilidade – ou qualquer outro problema que impeça uma gestação –, além dos sentimentos de tristeza, frustração e impotência, eles vivem também uma espécie de luto. É um momento muito delicado e que diz respeito somente ao casal, por isso, mais do que através de qualquer ajuda externa, a melhor forma de passarem por isso é sendo suporte um do outro.
O primeiro passo, no entanto, é não negar os sentimentos que surgirem. Mesmo trazendo sofrimento, é através deles que o casal reconhece também o amor que os uniu, afinal, o desejo de ter filhos é reflexo dele. Por isso, a negação desses sentimentos pode ser destrutiva para o casal, fazendo com que ao invés de gerar uma maior união, marido e esposa acabem se afastando nesse processo.
Diálogo como base da superação
Nesse contexto, um outro sentimento muito comum entre o casal é o medo de como o parceiro irá lidar com essa situação. Se o sofrimento de cada um não for partilhado com transparência, a consequência pode ser uma relação tomada pela insegurança. Por isso, para a psicóloga Gleice Justo, é preciso que o casal tenha muito diálogo em relação ao tema, pois cada pessoa tem uma maneira de lidar com as adversidades. Enquanto algumas pessoas têm a necessidade de falar, outras acabam se fechando. “Respeitar o tempo do outro é fundamental, mas sempre colocando o diálogo como base para a construção de novos caminhos e possibilidades”, afirma Gleice.
O que não dizer a um casal que está tentando engravidar – e o quanto isso pode afetá-los
Em momentos de crise ou conflito, o afastamento entre o casal pode acontecer, mas é preciso ter a consciência de que isso só prolongará o sofrimento. Pensamentos como culpa e medo de não se sentir suficiente para o outro na relação podem surgir, especialmente, por parte daquele que tem a esterilidade. “Esses sentimentos e crenças são limitantes e podem causar ainda mais afastamento entre o casal”, explica a psicóloga. “A base da reaproximação do casal é sempre o diálogo, assim poderão identificar o que o outro está sentindo sem deixar que os pensamentos errôneos dominem”.
Principalmente nos casos em que a gestação não é mais possível porque o casal demorou demais para querer ter filhos, a culpa gera, além de uma autodestruição nos cônjuges, um ambiente tomado por lamentações que não irão resolver o problema. O melhor caminho, então, é esquecer a culpa e encarar a realidade, pois essa postura faz o casal enxergar e considerar as reais possibilidades que podem surgir, seja através de ajuda médica ou adoção, por exemplo.
Ajuda necessária
Apesar do apoio principal estar um no outro, o casal não deve deixar de buscar as ajudas específicas. Segundo Judith, o casal precisa ter maturidade para conversar abertamente sobre o assunto, mas também para buscar ajuda médica para entender melhor o diagnóstico da infertilidade e descobrir se existe tratamento ou não. “Também podem e devem recorrer à ajuda de um psicólogo para trabalhar os aspectos emocionais e psicológicos que envolvem um diagnóstico de esterilidade”, orienta a psicóloga. “Dependendo da dificuldade que isto gerou no casal seria importante procurar uma terapia de casal”.
O diálogo, a sinceridade e abertura são fatores essenciais para saber a hora de buscar então uma outra alternativa como a adoção. Segundo Judith, para muitos casais a adoção é fator de grande resistência por conta de mitos e histórias que ouvem durante a vida. “Por isso, para dar esse passo é importante buscar ajuda de órgãos especializados ou sites que ajudam a esclarecer o processo da adoção e desmistificar os mitos que existem em torno da questão”, acrescenta Judith.
O papel da família
Quanto a ajuda da família nesse momento, as psicólogas afirmam com clareza: o papel dos familiares deve ser somente respeitar e acolher a decisão do casal seja ela qual for – insistir no tratamento, desistir de ter filhos, ou adotar. “Se trata de uma questão de foro íntimo e pessoal que diz respeito única e exclusivamente ao casal”, explica Judith. “Quanto mais pessoas interferem, mais difícil se torna lidar com a situação, portanto a única ajuda adequada que a família extensa pode e deve dar é respeitar e acolher a decisão do casal”, completa.
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