O criador da revista Playboy, Hugh Hefner, morreu na quarta-feira (27/09), aos 91 anos. Muito se comenta sobre o impacto cultural que a sua revista desempenhou na sociedade norte-americana e no resto do Ocidente desde 1953, quando foi criada.
O professor Christopher West, por exemplo, um dos mais conhecidos divulgadores da chamada “teologia do corpo” – uma série de catequeses pronunciadas por São João Paulo II entre 1979 e 1984 sobre o sentido cristão da sexualidade humana –, compara Hefner a João Paulo II, no sentido de que ambos ofereceram, na efervescência do século XX, uma visão renovada da sexualidade. É claro que se tratavam de visões contrapostas, mas cada uma foi a seu modo uma resposta ao moralismo que dominava na sociedade e que chega até os nossos dias.
Um episódio interessante na história de Hefner é que ele enviava exemplares da Playboy para a comunidade de padres responsável pela revista jesuíta America. A America é uma das publicações mais antigas em circulação nos Estados Unidos, remontando ao ano de 1909 – a exemplo de sua colega italiana, La Civiltà Cattolica, de 1850, a revista mais antiga ainda em circulação na Itália.
Mas como os jesuítas responsáveis pela revista reagiram à provocação de Hefner? Eles fizeram um breve comentário sobre a Playboy na edição de 1º de maio de 1965 da America. Confira o texto na íntegra:
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Playboy…
Hugh Hefner, um homem de Chicago, continua a nos mandar cópias da sua revista, Playboy. Aparentemente ele quer que nós a comentemos. Mas como parece que o grande propósito do Sr. Hefner em publicá-la é transformar uma piada suja em uma filosofia, nós nunca encontramos nada que merecesse ser comentado.
Para os leitores que podem estar curiosos, permitam-nos explicar: a Playboy publica regularmente uma página de histórias sujas, alguns cartuns sujos e alguma história obscena tirada dos clássicos. Há também algumas páginas coloridas contendo fotografias de mulheres nuas ou quase nuas, em poses que sugerem que o Sr. Hefner sofre de uma fixação infantil por seios.
O que distingue a Playboy, no entanto, é a “Filosofia Playboy”. Trata-se de uma série que já está em sua 22ª edição. Nela, o Sr. Hefner é mostrado como o arauto da “Revolução Sexual Americana”. A sua mensagem é que todos nós, casados e não casados, podemos viver felizes em um paraíso sexual amoral, se nós apenas deixarmos as nossas inibições puritanas.
…e o American Way
A Playboy tem uma circulação mensal de cerca de três milhões de exemplares. Pessoas tão distintas quanto Jean-Paul Sartre e Mortimer Adler contribuíram com entrevistas e artigos para a revista. Atrizes de Hollywood que, se não distintas, são pelo menos bem conhecidas, apareceram (c’est le mot juste*) em suas fotografias.
E o grande capital a apoia generosamente. Na edição de maio, por exemplo, podemos encontrar propagandas de página inteira de pneus Firestone, roupas Van Heusen, cervejas Budweiser e Anheuser-Busch, cigarros Tareyton, Pall Mall, Viceroy e Winston, relógios U.S. Rubber e Timex e várias marcas líderes de uísque. Se é isso que os homens de negócios entendem por senso de responsabilidade para com a comunidade, nós iremos sorrir bem cinicamente na próxima vez em que ouvirmos um deles pregando sobre a livre iniciativa e as virtudes do American Way of Life.
*Frase em francês que significa: “É a palavra exata”.
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Com informações de America.
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