O Papa Francisco publicou na terça-feira (2) um novo documento. A exortação apostólica pós-sinodal Christus vivit é fruto da assembleia do Sínodo dos Bispos sobre “jovens, fé e discernimento vocacional” ocorrida em outubro passado no Vaticano – e é o primeiro documento papal de maior porte a tratar do tema da juventude.
No texto, o papa apresenta uma visão teológica da juventude e dá indicações para a pastoral juvenil e a pastoral vocacional. Elenquei aqui cinco paradigmas novos que Francisco endossa no documento. Eles exigem não a mera aplicação de um ou outro plano novo, mas uma mudança de mentalidade – precisa virar a chavinha – e são, portanto, um desafio para as nossas comunidades.
1. De uma Igreja na defensiva a uma Igreja que escuta
Logo no segundo capítulo, Francisco deixa clara a sua opção: há, sim, jovens que prefiram uma Igreja na defensiva, que se mostre muito segura de si, mas esse não é o caminho mais fecundo. O papa defende uma Igreja que saiba ouvir, que leve a sério os jovens que dela se afastam e que reconheça, mesmo a partir das críticas, que há coisas que precisam mudar – uma Igreja, enfim, que saiba verdadeiramente dialogar, que se deixe estimular pela sensibilidade dos jovens de hoje e, assim, seja “viva” (cf. ChV 39-42).
2. De doutrinações a percursos formativos que aprofundam a experiência de fé
Francisco propõe a sua visão de um projeto formativo dos jovens na fé. Ele parte de uma premissa que ele mesmo estabeleceu em sua primeira exortação apostólica, Evangelii gaudium: de que toda a formação deve ser aprofundamento do querigma, do anúncio central do Evangelho. Assim evita-se que a transmissão da fé seja algo como uma “doutrinação” – o que seria um tiro no pé em todos os sentidos. A fé é uma experiência de encontro e não um sistema de ideias (cf. ChV 209-215).
3. De uma pastoral juvenil elitista a uma pastoral que esteja a serviço de todo jovem
O papa dedica vários parágrafos à ideia de uma “pastoral juvenil popular”. “Popular”, aqui, funciona como o oposto de “elitista”. Esse tipo de pastoral – que não é exclusivo, mas é necessário – não coloca impedimentos e obrigações diante do jovem, mas acompanha o seu processo de crescimento, estimulando-o em todos os sentidos, e não exclui ninguém. “Às vezes, por pretender uma pastoral juvenil asséptica, pura, caraterizada por ideias abstratas, afastada do mundo e preservada de toda a mancha, reduzimos o Evangelho a uma proposta insípida, incompreensível, distante, separada das culturas juvenis e adaptada só a uma elite juvenil cristã que se sente diferente, mas na verdade flutua num isolamento sem vida nem fecundidade”, diz Francisco (cf. ChV 230-238).
4. De uma noção de vocação estreita a uma concepção vocacional de vida cristã
Francisco propõe uma noção de vocação mais ampla e mais autêntica. Sem rodeios, diz que “toda a pastoral é vocacional, toda a formação é vocacional e toda a espiritualidade é vocacional”. Isso porque toda a pastoral, a formação e a espiritualidade estão a serviço da nossa vocação fundamental, que é a de ser para os outros, e não para si mesmo. Nenhum caminho vocacional é compreensível fora dessa vocação fundamental e nenhum percurso na vida cristã é compreensível sem a dimensão relacional que a vocação, o chamado, estabelece (cf. ChV 253-258).
5. De uma pastoral vocacional que força a barra a um acompanhamento atento a cada pessoa
Pelo mesmo motivo, o papa pede muita responsabilidade daqueles que acompanham o discernimento vocacional dos jovens – trata-se, afinal, de uma questão que pode impactar de forma muito negativa na vida de alguém se mal direcionada. “Devemos suscitar e acompanhar processos, não impor percursos. Trata-se de processos de pessoas, que sempre são únicas e livres. Por isso é difícil elaborar receituários”, alerta Francisco. A pastoral vocacional, portanto, não pode ser propagandista nem fazer a balança pesar para o lado das vocações celibatárias: ela está a serviço não das estatísticas dos seminários e conventos, mas do caminho de cada pessoa, que é único (cf. ChV 291-298).
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